domingo, 14 de janeiro de 2018

O racismo e arrogância de William Waack


William Waack escreveu um texto em sua própria defesa para a Folha de São Paulo. Acusado de racismo após a divulgação de um vídeo em que faz uma “piada” que hoje julga “infeliz”, o texto de Waack é quase um clichê de pessoas infratoras que tentam a todo custo se transformar em vítima. Waack se considera vítima de tudo e de todos. Acusa os rapazes que divulgaram o vídeo e cria quase uma teoria da conspiração sobre o papel das redes sociais sobre a grande mídia para justificar a pressão que resultou em seu afastamento. Em um dado momento, inclusive usa, fingindo não usar, a frase mais clichê de pessoas racistas tentando provar que não são racistas: “Eu até tenho amigos negros”.
Sim, a partir da “piada” é possível se concluir que William Waack é racista. Verbo no presente. As pessoas que o fazem não estão erradas. A única possibilidade de mudar o tempo verbal para uma pessoa que disse o que Waack disse seria o reconhecimento total do erro e um sincero pedido de desculpas. Waack o faz de forma quase envergonhada no final apenas para tentar se enaltecer, sempre tentando minimizar o peso da chacota. “Vejam a minha carreira”, diz ele. Não há nada em sua carreira que diga que ele não é racista.
A “piada” de Waack é a definição de racismo. Num momento histérico, afinal o que justifica alguém ficar tão nervosinho apenas porque alguém buzinou na rua, o jornalista solta uma série de impropérios contra uma pessoa que não conhece, culminando com a “piada” fatal e as risadinhas. Waack deixa claro no vídeo que julga um comportamento inadequado como sendo típico de pessoas de uma determinada cor de pele. “Coisa de preto”. Repito, isto é a definição de racismo. Waack deveria estar feliz por ter sido apenas demitido. Cometeu um crime e deveria estar respondendo a um processo criminal, embora eu sinceramente não saiba quais são as determinações da Constituição Brasileira (se é que ela existe ainda) para um caso de racismo cometido fora do território brasileiro.
Waack se consagrou nos últimos anos como porta-voz da classe média e da elite corrupta que foram às ruas de verde-e-amarelo bradar contra a corrupção. Defensor do punitivismo e do moralismo, mostra-se extremamente leniente quando o assunto é o crime que ele mesmo cometeu. Sempre elogiando o mecanismo das delações premiadas, mostra-se revoltado contra a delação da qual foi vítima. Típico dos seus telespectadores, afinal.
Na sua defesa fajuta à Folha de SP, Waack diz que a sua demissão é fruto da “covardia” da grande mídia em lidar com a pressão de “grupelhos” de redes sociais. Mais uma vez erra. Sua demissão se deu porque ele foi racista. Apenas por isto. Ele não é vítima de ninguém, senão de si mesmo. Como tudo na televisão, Waack era um produto. Valia a pena para a TV Globo porque vendia, tinha credibilidade junto ao público de classe média e de elite. Era o jornalista cuja palestra era a mais cara. Perdeu esta credibilidade ao se mostrar racista, levando anunciantes a temerem a possibilidade de verem suas marcas associadas a um nome manchado como o dele. Acredito que boa parte de seu público inclusive o perdoou, se é que enxergou algum erro na piada, uma vez que muito provavelmente se identificam com o jornalista até nisso. Os números de Bolsonaro entre os mais ricos, alcançando mais de 30% das intenções de voto, mostram isto.

Por último, o fato de Waack enxergar a própria demissão como símbolo de algo “maior” é um grande sinal de arrogância. Waack não faz falta alguma. A audiência dos programas que apresentava segue sendo a mesma. Há algum tempo, a jornalista Rachel Sheherazade foi proibida de dar comentários pessoais no SBT após defender o linchamento de um jovem contraventor no Rio de Janeiro. Foi contratada pela rádio Jovem Pan de São Paulo para dar suas opiniões. A mesma rádio já se mostra interessada pelo ex-global. Waack supervaloriza sua própria importância. Não passa de uma Rachel Sheherazade com grife.

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