sábado, 20 de janeiro de 2018

O governo Lula e o voto em Ciro


Antes de começar a defesa ao voto em Ciro Gomes, acho importante explicitar minha opinião sobre o governo Lula. Para mim, Lula foi o segundo maior presidente da história do Brasil, ficando atrás apenas de Getúlio. Foi responsável pelas maiores transformações sociais vividas neste país desde a era Vargas e o país nunca teve uma força no cenário geopolítico tão grande quanto em seu governo. O país saiu do mapa da fome. Paramos de ver repetidas matérias tratando da tragédia da seca no Nordeste. Para fazer isto, é fato, teve que se aliar ao que há de pior na elite empresarial e política, gente corrupta e mesquinha totalmente indiferente ao interesse nacional. Não vou, neste texto, focar nos efeitos negativos desta aliança. A grande mídia já alardeia isto o suficiente. Temos que tratar como fato histórico que ela existiu e que muito provavelmente as conquistas do governo Lula não seriam possíveis sem esta junção. Realpolitik na veia. A mesma coisa aconteceu no governo Juscelino, aliás. Não à toa, JK recebeu basicamente as mesmas acusações que Lula sofre agora quando a elite se cansou dele. As três vezes em nossa história republicana em que presidentes tentaram investir no social enfrentando esta turma resultaram em tragédias. O suicídio de Getúlio em 1954, o golpe militar contra João Goulart em 1964 e o golpe jurídico-parlamentar contra Dilma em 2016. O fato mais importante do desespero da elite corrupta em se livrar de Dilma é pouco falado, aliás. A Oderbrecht deu dinheiro a Pastor Everaldo para que ele ajudasse Aécio num debate em 2014. Aécio era um candidato tão ruim que precisava de ajuda para enfrentar Dilma, uma pessoa extremamente inteligente, mas com pouquíssima habilidade retórica, num debate.
Lula focou seu governo na inclusão de uma parcela significativa das pessoas no mercado de consumo. Isto inclusive na área educacional. Sem dúvida o país avançou gigantescamente nesta área. Pegando a minha bolha como exemplo, é enorme o número de pessoas que conheço que são da primeira geração de suas famílias a conseguirem fazer curso superior. Não acho que tenha sido feito da forma correta, com o Prouni funcionando quase como um seguro público para o desenvolvimento de faculdades particulares. Mas é inegável que isto foi um avanço dos maiores. Em qualquer outro lugar do mundo, um político que realizasse isto seria amado pela elite capitalista. Mais consumidores igual a mais lucro e sem dúvida os mais ricos ganharam muito dinheiro neste período. Isto não ocorre no Brasil, em que temos uma elite exclusivista, sem nenhuma visão de desenvolvimento nacional, e uma classe média que prefere se matar de trabalhar para garantir a si o prazer do que sobra desta elite do que lutar por algo maior. A elite corrupta se cansou de dividir qualquer coisa com o resto da sociedade e não quer mais saber de Lula. Como justificativa, usam o mais elitista dos poderes para combater de forma seletiva a corrupção. Num processo farsesco, provavelmente condenarão Lula e vão torna-lo inelegível para 2018 graças à reforma de um apartamento que nunca foi dele.
Lula tem todo direito de ser candidato. Uma eleição em que o primeiro colocado se torna inelegível desta forma bizarra não pode ser levada a sério. Lula, porém, não deveria querer ser candidato, por vontade própria. O momento histórico para a esquerda sair da lulodependência é agora. Lula goza de boa saúde, felizmente, mas já tem 74 anos e não vejo preocupação alguma nele e no PT em criar algum tipo de sucessor ao ex-presidente. Não que seja possível alguém ter o grau quase “mítico” que Lula possui, fruto não apenas das transformações de seu governo, mas de sua incrível história de vida, mas é chegada a hora de Lula transferir este patrimônio político a alguém.
A direita no Brasil é golpista e burra e está se dividindo em zilhões de candidaturas para 2018. Até Fernando Collor está querendo sair candidato. No momento, Alckmin, Álvaro Dias, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia, Paulo Rabello (presidente do BNDS) e agora Collor já declararam intenção de candidatura. Há ainda a candidatura circense de Luciano Huck, uma espécie de Dr. Rey mais apresentável e, claro, a candidatura fascista de Bolsonaro.
Vivemos num momento em que 1/5 da população brasileira se dispõe a votar num candidato fascista. Mesmo que este número caia até a eleição, o que é bem provável, pois este candidato começou a ser bombardeado pela mídia, que sempre se silenciou em relação às barbaridades ditas por Bolsonaro, mas que agora precisa fazer com que os fascistas voltem a apoiar o PSDB, qualquer pessoa que em algum momento já se mostrou disposta a votar num candidato destes merece ser chamada de fascista. Um grupo de jovens fascistas já participa diretamente da gestão de duas das cinco maiores cidades brasileiras, São Paulo e Porto Alegre. Enfrentar esta onda de ódio direitista deve ser a maior prioridade do momento e qualquer divergência programática entre grupos de esquerda deve ser desconsiderada numa aliança, neste momento. A candidatura Lula, neste cenário atual, só serviria de motor a estes grupos fascistas. Ser anti-Lula é tudo que eles sabem fazer. O que os incomoda não são os erros do governo Lula, e sim os acertos.

Neste cenário, o candidato de centro-esquerda que me parece ser o nome mais competitivo e ideal é Ciro Gomes. Político experiente, esteve do lado certo da história nos três momentos mais cruciais que nosso país viveu desde o fim do Regime Militar. Foi Ministro da Fazenda do Plano Real, fez parte do ministério do primeiro governo Lula, possivelmente o melhor ministério que o país já teve, e esteve sempre contra o impeachment de Dilma Rousseff, mesmo nos momentos em que havia uma grande pressão midiática sobre este assunto. Sempre denunciou os erros do governo Lula, reconhecendo também seus grandes acertos e a evolução do país neste período. Mas, mais importante de tudo, é o único nome competitivo a criticar o modelo de desenvolvimento baseado no consumo. A mídia esconde, mas em qualquer sondagem sem o nome de Lula, Ciro aparece em segundo, empatado com Marina Silva. Outras candidaturas de esquerda podem surgir. Manuela D’Avila já anunciou seu interesse. É fundamental, porém, que a esquerda não se divida neste momento em que algo muito sério está para acontecer. A onda fascista unida ao esforço do mercado em desmontar o estado brasileiro exige pragmatismo. Lula, vítima de uma perseguição nojenta, enalteceria ainda mais sua já gloriosa biografia se o apoiasse. O mesmo acontece com os demais partidos de esquerda.

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