Antes de começar a defesa ao voto
em Ciro Gomes, acho importante explicitar minha opinião sobre o governo Lula.
Para mim, Lula foi o segundo maior presidente da história do Brasil, ficando
atrás apenas de Getúlio. Foi responsável pelas maiores transformações sociais
vividas neste país desde a era Vargas e o país nunca teve uma força no cenário
geopolítico tão grande quanto em seu governo. O país saiu do mapa da fome. Paramos
de ver repetidas matérias tratando da tragédia da seca no Nordeste. Para fazer
isto, é fato, teve que se aliar ao que há de pior na elite empresarial e
política, gente corrupta e mesquinha totalmente indiferente ao interesse
nacional. Não vou, neste texto, focar nos efeitos negativos desta aliança. A
grande mídia já alardeia isto o suficiente. Temos que tratar como fato
histórico que ela existiu e que muito provavelmente as conquistas do governo Lula
não seriam possíveis sem esta junção. Realpolitik na veia. A mesma coisa
aconteceu no governo Juscelino, aliás. Não à toa, JK recebeu basicamente as
mesmas acusações que Lula sofre agora quando a elite se cansou dele. As três
vezes em nossa história republicana em que presidentes tentaram investir no
social enfrentando esta turma resultaram em tragédias. O suicídio de Getúlio em
1954, o golpe militar contra João Goulart em 1964 e o golpe
jurídico-parlamentar contra Dilma em 2016. O fato mais importante do desespero
da elite corrupta em se livrar de Dilma é pouco falado, aliás. A Oderbrecht deu
dinheiro a Pastor Everaldo para que ele ajudasse Aécio num debate em 2014. Aécio
era um candidato tão ruim que precisava de ajuda para enfrentar Dilma, uma
pessoa extremamente inteligente, mas com pouquíssima habilidade retórica, num
debate.
Lula focou seu governo na
inclusão de uma parcela significativa das pessoas no mercado de consumo. Isto
inclusive na área educacional. Sem dúvida o país avançou gigantescamente nesta
área. Pegando a minha bolha como exemplo, é enorme o número de pessoas que
conheço que são da primeira geração de suas famílias a conseguirem fazer curso
superior. Não acho que tenha sido feito da forma correta, com o Prouni
funcionando quase como um seguro público para o desenvolvimento de faculdades
particulares. Mas é inegável que isto foi um avanço dos maiores. Em qualquer
outro lugar do mundo, um político que realizasse isto seria amado pela elite
capitalista. Mais consumidores igual a mais lucro e sem dúvida os mais ricos
ganharam muito dinheiro neste período. Isto não ocorre no Brasil, em que temos
uma elite exclusivista, sem nenhuma visão de desenvolvimento nacional, e uma
classe média que prefere se matar de trabalhar para garantir a si o prazer do
que sobra desta elite do que lutar por algo maior. A elite corrupta se cansou
de dividir qualquer coisa com o resto da sociedade e não quer mais saber de
Lula. Como justificativa, usam o mais elitista dos poderes para combater de
forma seletiva a corrupção. Num processo farsesco, provavelmente condenarão
Lula e vão torna-lo inelegível para 2018 graças à reforma de um apartamento que
nunca foi dele.
Lula tem todo direito de ser
candidato. Uma eleição em que o primeiro colocado se torna inelegível desta
forma bizarra não pode ser levada a sério. Lula, porém, não deveria querer ser
candidato, por vontade própria. O momento histórico para a esquerda sair da
lulodependência é agora. Lula goza de boa saúde, felizmente, mas já tem 74 anos
e não vejo preocupação alguma nele e no PT em criar algum tipo de sucessor ao
ex-presidente. Não que seja possível alguém ter o grau quase “mítico” que Lula
possui, fruto não apenas das transformações de seu governo, mas de sua incrível
história de vida, mas é chegada a hora de Lula transferir este patrimônio
político a alguém.
A direita no Brasil é golpista e
burra e está se dividindo em zilhões de candidaturas para 2018. Até Fernando
Collor está querendo sair candidato. No momento, Alckmin, Álvaro Dias, Henrique
Meirelles, Rodrigo Maia, Paulo Rabello (presidente do BNDS) e agora Collor já
declararam intenção de candidatura. Há ainda a candidatura circense de Luciano
Huck, uma espécie de Dr. Rey mais apresentável e, claro, a candidatura fascista
de Bolsonaro.
Vivemos num momento em que 1/5 da
população brasileira se dispõe a votar num candidato fascista. Mesmo que este
número caia até a eleição, o que é bem provável, pois este candidato começou a
ser bombardeado pela mídia, que sempre se silenciou em relação às barbaridades
ditas por Bolsonaro, mas que agora precisa fazer com que os fascistas voltem a
apoiar o PSDB, qualquer pessoa que em algum momento já se mostrou disposta a
votar num candidato destes merece ser chamada de fascista. Um grupo de jovens
fascistas já participa diretamente da gestão de duas das cinco maiores cidades
brasileiras, São Paulo e Porto Alegre. Enfrentar esta onda de ódio direitista
deve ser a maior prioridade do momento e qualquer divergência programática
entre grupos de esquerda deve ser desconsiderada numa aliança, neste momento. A
candidatura Lula, neste cenário atual, só serviria de motor a estes grupos
fascistas. Ser anti-Lula é tudo que eles sabem fazer. O que os incomoda não são
os erros do governo Lula, e sim os acertos.
Neste cenário, o candidato de
centro-esquerda que me parece ser o nome mais competitivo e ideal é Ciro Gomes.
Político experiente, esteve do lado certo da história nos três momentos mais
cruciais que nosso país viveu desde o fim do Regime Militar. Foi Ministro da
Fazenda do Plano Real, fez parte do ministério do primeiro governo Lula,
possivelmente o melhor ministério que o país já teve, e esteve sempre contra o
impeachment de Dilma Rousseff, mesmo nos momentos em que havia uma grande
pressão midiática sobre este assunto. Sempre denunciou os erros do governo
Lula, reconhecendo também seus grandes acertos e a evolução do país neste
período. Mas, mais importante de tudo, é o único nome competitivo a criticar o
modelo de desenvolvimento baseado no consumo. A mídia esconde, mas em qualquer sondagem sem o
nome de Lula, Ciro aparece em segundo, empatado com Marina Silva. Outras
candidaturas de esquerda podem surgir. Manuela D’Avila já anunciou seu
interesse. É fundamental, porém, que a esquerda não se divida neste momento em
que algo muito sério está para acontecer. A onda fascista unida ao esforço do
mercado em desmontar o estado brasileiro exige pragmatismo. Lula, vítima de uma
perseguição nojenta, enalteceria ainda mais sua já gloriosa biografia se o
apoiasse. O mesmo acontece com os demais partidos de esquerda.
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