Daqui a uma semana é muito provável que Jair Bolsonaro já
tenha sido eleito presidente do país que representa a nona economia do mundo.
Falando apenas de termos técnicos inicialmente, deixando as gravíssimas
questões morais para o decorrer da análise, não lembro de na história do
planeta alguma pessoa tão despreparada e ignorante assumir um cargo tão
importante. Bolsonaro está sendo eleito para o cargo mais importante do país
sem ter apresentado nenhuma proposta realmente boa sobre nenhum termo e sem ter
nenhum especialista, à exceção de Paulo Guedes, participando da criação de um
plano de governo. Também será eleito se recusando a participar de debates ou de
entrevistas no segundo turno, ameaçando a imprensa que “ousa” questioná-lo. Foi deputado por 28 anos, tendo um desempenho medíocre baseado na defesa dos interesses da classe militar. Conquistou fama graças a participações polêmicas em programas de subcelebridades, onde saia falando merda e ofendendo pessoas com base em achismos preconceituosos. Uma pessoa completamente insignificante. Bolsonaro é mais ou menos como aquele tio lunático que quase todos têm na
família, aquele que é extremamente burro e não sabe, que só fala merda baseado
em nada e cuja solução para quase todos os problemas do planeta costumam
incluir assassinatos e prisões. Basicamente um cara como o tio burro vai ser
eleito presidente.
A principal discussão da semana que vem será de quem é a
culpa pela vitória de Bolsonaro. Muitos falarão que a culpa é do PT, que seria
o “responsável” pelo surgimento de Bolsonaro. Outros falarão que é de Ciro, que
foi passear na Europa ao invés de ajudar Haddad. Whatsapp, mídia, twitter
também estarão entre os responsáveis. Pouco se falará, porém, sobre aquela que
deveria ser a constatação mais óbvia desta eleição. A culpa pela vitória de
Bolsonaro terá sido de quem votou nele. E mais, Bolsonaro terá ganho porque a
maioria do país é exatamente como ele. Racista, homofóbica, machista e guarda
dentro de si a mais perigosa união que existe, a da ignorância com a
arrogância.
Fomos incapazes de enxergar que somos uma sociedade formada
em sua maioria por tios burros da família. Sou um homem branco, de classe média
e privilegiado. Esta eleição é a prova de como fui cego para a sociedade que me
ronda. Passei boa parte da eleição calmo, achando que era impossível que uma
pessoa como Bolsonaro recebesse mais da metade dos votos. Em boa parte do
tempo, inclusive, acreditava que Bolsonaro não fosse capaz nem de chegar ao
segundo turno. Pensava eu que a galera estava dizendo que ia votar nele por
estar puta, mas que, ao ser confrontada com as coisas que ele já disse, com
suas propostas de genocídio contra minorias, suas falas contra homossexuais,
sua visão sobre mulheres etc, suas intenções de voto iriam cair e o PSDB
chegaria ao segundo turno. O que aconteceu foi exatamente o contrário. Bolsonaro
apenas subiu com a aparição de vídeos em que ele diz que crianças homossexuais
devem apanhar, que quilombolas pesam “arroubas”, que fraquejou ao ter uma filha
mulher. Também cresceu quando seu vice disse que o Brasil havia herdado “a
malandragem dos negros e a indolência dos índios”. Bolsonaro tirou a máscara de
todas estas pessoas, que puderam graças a ele expor seus ódios e preconceitos
sem nenhuma vegonha. Lembro-me que conversava com um amigo negro na época em
que eu supervalorizava a decência da sociedade brasileira e ele me dizia que eu
estava errado, que a sociedade era uma merda e que Bolsonaro tinha chance. Ele
estava certo. Ele sente na pele o que esta sociedade de merda é capaz de fazer.
A vitória de Bolsonaro não tem nada a ver com o que chamam
de sentimento antipetista. O candidato já deixou bem claro que vai repetir
todos os erros cometidos durante a era petista. Recebeu caixa dois, apoiou
corruptos e já está partilhando ministérios entre os bandidos de sempre. O que
as pessoas que votam em Bolsonaro odeiam no PT não são os erros, e sim os
acertos da era petista. Odeiam o Bolsa Família, o desenvolvimento do Nordeste,
as cotas racias, a inclusão de homossexuais. Odeiam qualquer tipo de avanço.
Querem que o Brasil, como diz seu candidato, volte 50 anos no tempo. Uma época
em que o Brasil era mais pobre, mais desigual, menos inclusivo e praticava
tortura.
O típico eleitor de Bolsonaro é completamente incapaz de
defender seu candidato com base em algum tipo de dado. A “defesa” é sempre
feita com base em ataques, mentiras, deboches e, principalmente, aquilo que
chamo de “vitimismo dos privilegiados”. São pessoas que têm as melhores condições
de vida possível, mas reclamam porque continuam achando a vida uma bosta. Como
acham a própria vida uma bosta, incomodam-se muito com o fato de que a dos
outros não esteja tão bosta e sonham com o dia em que todos se sentirem tão
bostas. Por isso ficam tão felizes quando imaginam a vida de outros piorando na
gestão Bolsonaro. "Ele “vai acabar com as mamatas”, diz o publicitário
paulistano que mora em Miami e só vem ao Brasil para passar férias no final do
ano.
É inacreditável o grau de concessões morais que estas
pessoas se mostram dispostas a fazer, com um sorriso no rosto, para “se livrar
do PT”. Ontem, por exemplo, Bolsonaro disse que vai expulsar ou prender aqueles
que ousarem discordar do seu governo. Dentre estas pessoas que ele vai expulsar
ou prender, queridos conhecidos que vão votar no coiso, não está apenas a
Gleisi, o Lindbergh ou a grande tara de vocês, o Lula. Estão pessoas como
aquele seu amigo esquerdista do facebook, que você acha chato e que tá
viajando, aquele amigo gay, do qual você diz ser amigo, mas que não se importa
com o fato de que ele pode ser agredido nas ruas em função do discurso do seu
candidato. Estou eu.
Vivemos numa sociedade que se mostra intolerante. Que aprova
tortura. Que aprova homofobia. Que aprova machismo. Que aprova o racismo. Uma
sociedade que quer massacrar minorias. Assim como seu tio burro. Houve uma
época em que eu achava as merdas que o meu tio burro falava engraçadinhas e
inconsequentes. Não eram. Nunca foram. Eu era alienado. Nós éramos alienados. Fomos extremamente condescendentes com os absurdos e preconceitos de pessoas que amamos. Como o tio burro. O
tio burro que não se importa com a vida de ninguém. Só com a dele. O tio burro está muito próximo de triunfar. A principal "proposta" de Bolsonaro para educação é o Escola sem Partidos, projeto que pretende praticamente extinguir o ensino de ciências humanas na escola. O tio burro gosta deste projeto, assim seus sobrinhos ficarão mais parecidos com ele. Esta eleição nada mais é do que isto, o triunfo do tio burro.
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