sexta-feira, 27 de julho de 2018

Alckmin x Bolsonaro - o sonho da direita



Antes de começar o texto verdadeiramente, gostaria de dizer que quase tudo que é escrito aqui é meio baseado em achismos. Daqueles tipos que as pessoas falam ou escrevem somente para depois terem a chance de dizer para os outros “eu avisei” caso realmente aconteça. E eu espero sinceramente estar errado nestas “previsões”.
O mercado e a grande mídia precisam da vitória de Alckmin. A eleição do candidato tucano é a legitimação de tudo que aconteceu no Brasil desde 2016. Seria como uma justificativa final. Alckmin poderia continuar as medidas regressivas de Temer com apoio das urnas. As mesmas forças que financiaram e praticaram o golpe contra Dilma Rousseff estão unidas em torno desta candidatura. A direita fisiológica que a imprensa insiste em chamar de “centrão”, por exemplo. As Igrejas que não pagam impostos e a bancada da bala fazem parte deste falso “centro”. A única turma que participou daquele golpe e não se uniu à candidatura Alckmin é a dos fascistas, que têm outro candidato. Aliás, o fato de que Bolsonaro tenha 19% e Alckmin tenha apenas 4% mostra bem como era a distribuição daquelas passeatas que a mídia vendeu como “familiares e pacíficas”.
Ir para o segundo turno com Bolsonaro é o grande sonho da turma que apoia Alckmin. Numa situação destas, quase todas as pessoas minimamente razoáveis votariam no tucano. Inclusive boa parte da esquerda, creio eu. Qualquer pessoa que for para o segundo turno contra Bolsonaro tem a chance de obter uma vitória em larga escala, algo como 65% a 35%, por exemplo. Nada seria mais consagrador do que chegar ao Planalto desta forma. Há, no entanto, três obstáculos para que isto aconteça: Marina, Ciro e Lula.
Marina será o obstáculo mais simples de ser vencido. O eleitorado de Marina é extremamente frágil e a impressão que tenho é que boa parte dele nem sabe direito porque está votando nela. Quer de alguma forma ser “diferente”. Basta a este eleitorado descobrir que Marina discorda dele em qualquer ponto para mudar de voto. Marina é, aliás, a verdadeira candidata de centro nesta eleição. A direita que finge querer um centro não a quer porque tem por ela os mesmos preconceitos que possuem contra Lula. Os seus eleitores mais progressistas desistirão dela quando ela expuser suas opiniões contrárias ao aborto e seus eleitores mais conservadores desistirão dela quando ela se mostrar progressista no que se refere a programas sociais. Apenas para dar dois exemplos. Qualquer propaganda mostrando que Marina eleita representaria falta de comida no prato pode ser suficiente para enfraquecer sua candidatura. Também não sei se Marina quer realmente ser presidente. A impressão que tenho às vezes é que ela se conformou em ser um personagem que aparece uma vez a cada quatro anos e passa o resto do tempo viajando e dando palestras, dizendo como com ela “tudo seria diferente”.
Para derrubar Ciro, a mídia terá um papel mais importante. Qualquer coisa que o ex-ministro do plano Real e ex-governador do Ceará disser que puder causar o mínimo de polêmica terá uma repercussão desproporcional. Darei dois exemplos. Nesta semana, Ciro foi por duas vezes a manchete de capa dos portais do Uol e da Globo.com. Numa delas, ele disse numa entrevista para uma rádio no MA que acreditava que Lula deveria ser solto. Em outra, reclamava da postura do PT em relação à sua candidatura. Os dois portais colocaram ESTAS duas notícias como capas ! Destaque principal do dia ! Ou seja, basicamente não havia nada mais importante acontecendo no mundo naquele momento do que estas falas de Ciro. Criam-se assim duas falácias. A primeira é de que Ciro poderia dar um indulto a Lula, o que não é nem previsto pela Constituição, afastando-o do eleitorado mais conservador. A segunda é a de que Ciro estaria brigando com o PT, afastando-o do eleitorado mais progressista. Tudo que o candidato do PDT disser será supervalorizado, especialmente aquilo que puder gerar qualquer polêmica.
Quanto à Lula, a aposta é em seu ego. Lula é egocêntrico e inegavelmente tem até razão para isto. Lula é o brasileiro vivo mais importante, sem dúvida a pessoa que mais influenciou o país nos últimos 50 anos. Está preso injustamente há 100 dias, sofrendo ataques incessantes da grande mídia e, mesmo assim, lidera as pesquisas com folga. Seria eleito se vivêssemos numa democracia séria. Se qualquer gerente de empresa privada quebrada já é egocêntrico por isso, imagine Lula? Se até o William Waack é egocêntrico, imagine alguém do tamanho de Lula? Fazendo uma pequena digressão sobre William Waack, aliás, vi outro dia um trecho de programa dele em que ele disse que o maior problema do Brasil é a impunidade. Concordo, num país sério Waack estaria preso pelo crime de racismo que cometeu. Voltando a Lula, ele provavelmente manterá sua candidatura até o prazo máximo de julgamento pelo TSE. Este tribunal fará o possível para adiar ao máximo a confirmação de sua não-candidatura, impedindo assim que Lula tenha tempo para transferir seus votos para outro(a) candidato(a).
Grande mídia, empresariado e judiciário dividirão suas tarefas na missão de fazer Alckmin decolar. A tarefa seria mais fácil se o eleitorado de Bolsonaro não fosse tão fanático. Os fascistas não querem tucanar novamente. Será preciso fazer que outros eleitorados tucanem então. O PSDB, que é possivelmente o maior responsável pelo crescimento da extrema-direita no país, tenta se vender como centro.  A direita que agora se diz horrorizada com o que diz o candidato fascista faz suas críticas por pura hipocrisia. Não sentiu vergonha de contar com ela na derrubada de um governo democraticamente eleito. Não pensará duas vezes antes de focar suas críticas em Ciro e Marina no caso de se confirmar o fato de que os fascistas não voltarão mais ao ninho tucano. Dinheiro para isto não faltará. Haja propaganda.

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