A bancária Lilian Calixto saiu de
Cuiabá no dia 18/7 para realizar um procedimento estético no Rio de Janeiro.
Aplicaria um implante nos glúteos com o médico Denis Furtado, que era conhecido
no meio como “Dr. Bumbum”. O valor do procedimento seria de R$ 20 mil e ocorreu
na casa do médico. Em decorrência de complicações decorrentes da cirurgia,
Lilian morreria no domingo.
O Brasil realizou em 2017,
segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, um
milhão e duzentas mil cirurgias estéticas. É o segundo país no mundo em que
mais são realizados estes tipos de procedimentos, atrás apenas dos EUA. Segundo
esta mesma instituição, mulheres representam 86% destas cirurgias. Os dois
procedimentos mais comuns são lipoaspiração e implantação de silicone nos
seios.
A principal característica do
sistema em que vivemos é que ele precisa sempre nos manter de alguma forma
infelizes. A principal arma da propaganda é mostrar como seríamos mais felizes
se comprássemos aquilo que está sendo vendido. E nada vende mais do que a
beleza. Ligamos a TV diariamente e somos bombardeados por pessoas lindas
demonstrando felicidade. Desde cedo somos doutrinados a buscar o tão padrão de
beleza e isto é multiplicado por infinito no caso feminino. Quando criança, as
bonecas são quase sempre loiras e magras. As apresentadoras infantis são quase
todas loiras e magras. Passando para a adolescência, programas com atrizes
quase sempre loiras e magras disputando o galã e vendendo um estilo de vida
consumista nos preenchem. Na vida adulta, apresentadoras de TV quase sempre
loiras e magras nos confundem com fofocas sobre celebridades loiras e magras e
publicidade de produtos de beleza entre uma notícia sobre crise econômica e
outra. As revistas femininas quase sempre trazem em suas capas mulheres magras
e loiras, em títulos como “Boa Forma” ou “Saúde”. Passamos a vida sendo
bombardeados pela ditadura da beleza e tendo uma vida de merda graças aos padrões impostos por ela. Somos vítimas, mas ao mesmo tempo opressores, uma vez que também utilizamos estes padrões para julgar.
A infelicidade com o próprio
corpo é uma das maiores formas de opressão social. Enquanto procurava matérias sobre o assunto para
tentar escrever este texto, a que mais me assustou foi a conclusão de uma
matéria do Estado de São Paulo sobre o assunto em dezembro de 2016: “As
mulheres e homens podem começar o ano de 2017 mais bonitos e confiantes, pois
quando se está bem exteriormente e interiormente, de corpo e alma, as coisas
boas começam a surgir”. Todo oprimido é facilmente manipulado e a indústria
lucra com isto. A sociedade é incentivada a tratar o assunto da forma o mais
superficial possível. Quase todas as matérias que falam sobre a segunda
colocação do Brasil no ranking de cirurgias plásticas no mundo as fazem
tratando o assunto com orgulho.
Este dado é sinônimo de um grave
problema social. Não nos aceitamos como somos. Cada vez mais pessoas,
especialmente mulheres, são empurradas para mesas de cirurgia em nome de um
padrão de beleza que não temos. Arriscam suas vidas (porque toda cirurgia tem
um risco afinal) para se sentir mais aceitas por uma sociedade que não busca
aceitar ninguém, que julga basicamente por posses e aparências.
O Brasil não sabe reconhecer e tratar
suas doenças. A mídia não faz o seu papel. Ao invés de usar esta tragédia para
debater nossa sociedade e abordar o que leva tantas mulheres a buscar o bisturi
por razões estéticas, trata o caso com sensacionalismo. As bases para a busca
de uma melhoria deste problema seriam o questionamento dos valores de uma
sociedade consumista e a aposta em maior diversidade na representação das pessoas
por parte da mídia. Mas ninguém parece interessado nisso. Beleza e infelicidade
vendem. Fazem a economia girar. Numa sociedade dominada por este tipo de
pensamento, casos como estes se repetirão. Dr. Bumbum será preso. E caso ele tenha
agido de má fé neste caso, espero que continue preso. Mas a sociedade
continuará sendo oprimida pelo assunto. Quem sabe não veremos ainda nesta
década alguma matéria comemorando que o Brasil assumiu a primeira colocação
neste triste ranking?
Ver um homem refletindo e dissertando sobre o assunto é bem refreshing porque eu não vejo isso acontecendo muito? E tem um TED Talk (the sexy lie) que diz que homens podem inclusive ajudar a combater a ditadura da beleza parando de julgar as mulheres pela aparência :))
ResponderExcluirOi Melissa. Vou procurar este TED Talk. Eu acho que nós homens somos a parte principal deste problema na verdade. A questão da ditadura da beleza passa muito pela forma como a sociedade machista trata a mulher como objeto.
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