Doria e Datena se uniram.
Concorrendo ao governo do Estado, o publicitário lobista “não-político”
precisava encontrar um tema para sua campanha e, buscando repetir seu sucesso
da campanha anterior à Prefeitura, precisava fazer isto sem apresentar uma proposta
real. Fez isto chamando para a chapa como candidato a senador o apresentador
sanguinário recém filiado ao DEM, aquele que repete sensos comuns em programas
violentos vespertinos, mantendo pessoas assustadas entre propagandas de
seguradoras de carro e planos de saúde.
Como um jovem empreendedor que já
fracassou em quatro empresas que abriu com o dinheiro do pai, João Doria Jr.
fracassou em quase tudo que fez na vida. Vendido como “publicitário de sucesso”,
não consegui encontrar pesquisando nenhuma propaganda importante ou
inesquecível que tenha sido feita por ele. Tentou ser apresentador de TV,
primeiro em um programa de entrevistas em que nunca saía do traço de audiência.
Em seguida, substituindo Roberto Justus no “Aprendiz”, conduzindo as edições
menos assistidas do programa. Conseguiu entrar na política através de uma
empresa chamada “Lide” que ninguém sabe ao certo do que faz. Aparentemente se
trata de uma empresa de lobby, cuja função é juntar políticos de todos os
partidos, em sua maioria tucanos, com empresários do setor privado, facilitando
assim a realização de “negócios”. Adotando um discurso anti participação
estatal, a Lide fundou uma revista, que sobrevive graças à imunidade fiscal do
papel utilizado para imprimi-la e de propagandas de governos tucanos espalhadas
entre uma matéria de empreendedorismo e outra. Sua primeira tentativa de obter
algum protagonismo na política veio no começo da gestão Dilma, com um movimento
chamado “Cansei”. Tratava-se de um grupo formado por empresários e celebridades
que tentava, já naquela época, criar um movimento político semelhante ao que
viria a ser o MBL a partir de 2014. Após o impeachment da petista, Doria
alcançaria aquele que seria possivelmente o seu primeiro sucesso real na vida.
Em uma eleição marcada pela mediocridade, numa sociedade dividida pelo ódio,
Doria se destacou. Comprou a vaga pelo PSDB paulista, pagando as dívidas de
campanha que Alckmin havia deixado na eleição anterior, e fez uma campanha
inegavelmente bem-sucedida. Sem apresentar qualquer coisa que se parecesse com
um programa de governo, sem propostas sobre transporte público, segurança e
educação, tendo basicamente uma proposta de curto prazo sobre saúde (o já
esquecido Corujão da Saúde) e prometendo privatizar tudo que possível, foi
eleito em primeiro turno. Sua gestão, como tudo que havia feito antes desta
campanha, foi um fracasso. A ausência de projetos resultou em ausência de
realizações e sua popularidade começou a despencar após o primeiro semestre.
Com aquela esperteza típica de quem passa a vida inteira enganando, Doria soube
sair da Prefeitura o mais rápido possível para fazer aquilo que aparentemente é
a única coisa que sabe realmente fazer, campanha política para si mesmo. Tentou
(e tenta até agora) passar a perna em Alckmin e ser candidato a presidente.
Voltou a fracassar e lhe sobrou o Estado.
O tucano tentará repetir em 2018
as receitas do sucesso de dois anos antes. Buscará o discurso o mais vazio
possível, evitará tocar em assuntos importantes e qualquer proposta mais
complexa. O caminho para a vitória está em tornar a campanha o mais medíocre
possível. Para isto, nada mais simbólico do que trazer para a campanha um nome
como José Luiz Datena. Este, ao contrário de Doria, é inegavelmente
bem-sucedido na área televisiva. Ex-repórter esportivo, alcançou grande êxito
com a fórmula do medo. Ninguém soube como ele manter uma população assustada em
frente à televisão em horários vespertinos, sempre vendendo porcarias entre uma
notícia do mundo cão e outra. Poucas coisas mantêm um consumidor mais propenso
a comprar do que o medo. A televisão aprendeu desenvolveu isto, tendo Datena
como um dos seus mais importantes vendedores. Destacou-se também com um
discurso “anti-poder”, ao mesmo tempo em que puxava o saco de quase todos os
políticos que estavam no poder. Um dos seus slogans é que a tragédia é a “vida
real”.
Pois bem, a “vida real” propagada
por Datena será provavelmente o tema da eleição estadual. Trazendo o
apresentador para sua chapa, Doria ganha espaço no tema de segurança pública da
forma como sabe, sem apresentar proposta. Candidato pelo partido que assistiu a
criação da maior organização criminosa do país em seus presídios, Doria
desfilará pelo estado com Datena repetindo as frases do apresentador sobre o
assunto. Provavelmente levará com eles Coronel Telhada, ícone da política sanguinária
e deputado estadual mais votado do Estado na última eleição, que propôs em uma
rede social a separação de SP do restante do país após a vitória de Dilma em
2014.
O PSDB foi fundado como partido
de intelectuais social-democratas após o fim do regime militar e o fracasso do
governo Sarney. Em SP era o partido de Franco Montoro e Mário Covas. Hoje se
tornou o partido do lobista fracassado, do coronel preconceituoso e do
apresentador sanguinário. Nada representa melhor a mediocridade do pensamento
político em SP do que o rumo tomado pelo PSDB. Doria tenta usar o Estado como
trampolim para levar sua mediocridade ao Planalto. Para realizar seu sonho,
será necessário manter a população medíocre. Contará com a ajuda de Datena para
isto.
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