terça-feira, 24 de julho de 2018

Brazilian Horror Story



Na semana de lançamentos das campanhas presidenciais, a mais importante e assustadora reportagem que li na "grande" mídia nos últimos tempos passava meio que despercebida pela maioria. O repórter da Revista Época Patrick Camporez conta aos poucos leitores da revista a experiência de uma escola estadual militarizada do estado de GO. Em julho de 2015, o governador de GO, Marconi Perillo do PSDB, transferiu a gestão de uma escola pública para a Polícia Militar. O que se lê no texto é bizarro e, numa era em que o bizarro tem se sobreposto, possivelmente foi visto com bons olhos por boa parte dos reduzidos leitores. Os militares transformaram a escola em quartel. Todos os alunos estão uniformizados como soldados, urram gritos de guerra nacionalistas e passam por uma inspeção na entrada. Nenhum tipo de individualidade, como corte de cabelo fora do padrão ou unha pintada, é aceito. Após a entrada, há uma segunda inspeção, realizada pelos próprios alunos. Eles são o tempo todo incentivados para a vigilância interna. Salas de aula passaram a se chamar “alas” e “pavilhões”, os mesmos termos utilizados para falar de cadeias. Os centros estudantis foram abolidos, bem como aulas de teatro e de dança.
Acredita o governador tucano Marconi Perillo que o plano está dando certo. O motivo apontado é apenas um, a nota do Enem. O desempenho estudantil, acha o governador, é medido apenas por uma prova de múltipla escolha e tudo vale para se melhorar este número. Inclusive transformar escola em prisão. É quase uma ditadura da estatística, afinal. Nenhuma comparação com outros projetos que também melhoraram em provas sem transformar alunos em presidiários é feita na matéria. Não se buscou entender, por exemplo, o modelo cearense que possui 77 das 100 melhores escolas públicas do país segundo o IDEB.
A escola é o primeiro lugar de socialização da maioria dos nossos jovens. Lá, eles deveriam encontrar um ambiente diverso, entrar no mundo. O que o modelo goiano está fazendo é exatamente o oposto, formando um exército de jovens autoritários e intransigentes, dispostos a dedurar em nome da pátria. Mais do que isto, transferiu a gestão do ensino para a corporação que deveria cuidar da segurança pública.
O plano do PSDB de GO é expandir este projeto para outras escolas do estado. Atualmente, 46 escolas-prisão com 53 mil “presidiários”, ou melhor, alunos, já existem no estado. Outros estados já seguem esta onda, especialmente na região Norte e Centro-Oeste.
No último domingo, Jair Bolsonaro lançou sua candidatura à presidência, com o apoio da advogada do impeachment, Janaína Paschoal. A alta aceitação da candidatura Bolsonaro está longe de ser o início de um processo de “fascistização” da sociedade brasileira. É apenas uma nova etapa. O eleitorado fascista se escondeu por muito tempo no simples antipetismo. Odiavam o que acontecia no governo Lula, que era o oposto do que ocorre na ideia da gestão Perillo. Ideias de igualdade de gênero, de cotas raciais para corrigir as desigualdades da nossa sociedade racista, distribuição de renda. É por isso que esta parte da sociedade odeia Lula. A suposta corrupção é apenas um disfarce. Na falta de um candidato que expusesse o mesmo ódio abertamente, esta parcela fascista da população apoiava qualquer um que concorresse contra Lula e contra o PT. O PSDB apareceu como principal opção, recebendo e aceitando por anos este eleitorado. A partir do impeachment sem crime, comando pela possível vice de Bolsonaro,  Janaína Paschoal, contratada do PSDB na época do processo, esta parcela se viu liberada para agir de forma mais independente, depredando exposições artísticas, por exemplo. Não à toa a candidatura de Bolsonaro ganha força a partir do afastamento de Dilma. Ele não teria 20% dos votos em 2014, afinal. Eu sinceramente acho que ele não ganhará neste ano. Acho e torço. O maior perigo é a forma como o PSDB vem se transformando para atrair o seu tipo de eleitor. Não há a menor dúvida que a experiência dos tucanos em GO visa atrair os bolsonetes de lá. Até onde o PSDB é capaz de ir, não se sabe. As coisas ocorrem gradualmente, passo-a-passo. Se uma hora este tipo de ideia triunfar no país, lembre-se da sessão do impeachment. E lembre-se também de Bolsonaro fazendo o gesto de arma junto a uma criança na semana passada. Esta foto foi tirada em Goiânia, aliás.

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