Na semana de lançamentos das
campanhas presidenciais, a mais importante e assustadora reportagem que li na "grande" mídia nos últimos tempos passava meio que despercebida pela maioria. O
repórter da Revista Época Patrick Camporez conta aos poucos leitores da revista
a experiência de uma escola estadual militarizada do estado de GO. Em julho de
2015, o governador de GO, Marconi Perillo do PSDB, transferiu a gestão de uma
escola pública para a Polícia Militar. O que se lê no texto é bizarro e, numa
era em que o bizarro tem se sobreposto, possivelmente foi visto com bons olhos
por boa parte dos reduzidos leitores. Os militares transformaram a escola em
quartel. Todos os alunos estão uniformizados como soldados, urram gritos de
guerra nacionalistas e passam por uma inspeção na entrada. Nenhum tipo de
individualidade, como corte de cabelo fora do padrão ou unha pintada, é aceito.
Após a entrada, há uma segunda inspeção, realizada pelos próprios alunos. Eles
são o tempo todo incentivados para a vigilância interna. Salas de aula passaram
a se chamar “alas” e “pavilhões”, os mesmos termos utilizados para falar de
cadeias. Os centros estudantis foram abolidos, bem como aulas de teatro e de
dança.
Acredita o governador tucano
Marconi Perillo que o plano está dando certo. O motivo apontado é apenas um, a
nota do Enem. O desempenho estudantil, acha o governador, é medido apenas por
uma prova de múltipla escolha e tudo vale para se melhorar este número. Inclusive
transformar escola em prisão. É quase uma ditadura da estatística, afinal.
Nenhuma comparação com outros projetos que também melhoraram em provas sem
transformar alunos em presidiários é feita na matéria. Não se buscou entender,
por exemplo, o modelo cearense que possui 77 das 100 melhores escolas públicas
do país segundo o IDEB.
A escola é o primeiro lugar de
socialização da maioria dos nossos jovens. Lá, eles deveriam encontrar um
ambiente diverso, entrar no mundo. O que o modelo goiano está fazendo é
exatamente o oposto, formando um exército de jovens autoritários e
intransigentes, dispostos a dedurar em nome da pátria. Mais do que isto,
transferiu a gestão do ensino para a corporação que deveria cuidar da segurança
pública.
O plano do PSDB de GO é expandir
este projeto para outras escolas do estado. Atualmente, 46 escolas-prisão com
53 mil “presidiários”, ou melhor, alunos, já existem no estado. Outros estados
já seguem esta onda, especialmente na região Norte e Centro-Oeste.
No último domingo, Jair Bolsonaro
lançou sua candidatura à presidência, com o apoio da advogada do impeachment,
Janaína Paschoal. A alta aceitação da candidatura Bolsonaro está longe de ser o
início de um processo de “fascistização” da sociedade brasileira. É apenas uma
nova etapa. O eleitorado fascista se escondeu por muito tempo no simples
antipetismo. Odiavam o que acontecia no governo Lula, que era o oposto do que
ocorre na ideia da gestão Perillo. Ideias de igualdade de gênero, de cotas
raciais para corrigir as desigualdades da nossa sociedade racista, distribuição
de renda. É por isso que esta parte da sociedade odeia Lula. A suposta
corrupção é apenas um disfarce. Na falta de um candidato que expusesse o mesmo
ódio abertamente, esta parcela fascista da população apoiava qualquer um que
concorresse contra Lula e contra o PT. O PSDB apareceu como principal opção,
recebendo e aceitando por anos este eleitorado. A partir do impeachment sem
crime, comando pela possível vice de Bolsonaro, Janaína Paschoal, contratada do PSDB na época
do processo, esta parcela se viu liberada para agir de forma mais independente,
depredando exposições artísticas, por exemplo. Não à toa a candidatura de Bolsonaro
ganha força a partir do afastamento de Dilma. Ele não teria 20% dos votos em
2014, afinal. Eu sinceramente acho que ele não ganhará neste ano. Acho e torço. O maior
perigo é a forma como o PSDB vem se transformando para atrair o seu tipo de
eleitor. Não há a menor dúvida que a experiência dos tucanos em GO visa atrair
os bolsonetes de lá. Até onde o PSDB é capaz de ir, não se sabe. As coisas
ocorrem gradualmente, passo-a-passo. Se uma hora este tipo de ideia triunfar no
país, lembre-se da sessão do impeachment. E lembre-se também de Bolsonaro
fazendo o gesto de arma junto a uma criança na semana passada. Esta foto foi
tirada em Goiânia, aliás.
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