domingo, 16 de setembro de 2018

O Poste



Fernando Haddad é bacharel em direito, com mestrado em economia e doutorado em filosofia. Integrou o Ministério do Planejamento por dois anos e foi Ministro da Educação por sete anos. Durante sua gestão, implantou o Prouni, que permitiu que milhões de jovens brasileiros realizassem o sonho de realizar uma universidade, e realizou a maior expansão do número de universidades federais da nossa história. Saiu do ministério para concorrer à Prefeitura de São Paulo. Exerceu o cargo de prefeito da maior cidade do país por quatro anos. Com experiência de sete anos como ministro e quatro como prefeito, foi lançado como candidato à presidência pelo PT na última semana, após a confirmação da invalidação da candidatura do ex-presidente Lula. É este Haddad, sete anos ministro e quatro anos prefeito, que a mídia apelida de “poste”.
O principal objetivo da adjetivação “poste” é impedir que qualquer debate de qualidade se faça em torno da candidatura Haddad. Um simples desrespeito pejorativo. Dos atuais candidatos à presidência, considero que apenas Ciro Gomes e Geraldo Alckmin possuam mais experiência administrativa do que o petista. Mas tanto faz. O importante é repetir a palavra poste na função de adjetivo para causar o maior dano possível.
Em 2010, dizem os “especialistas”, o “poste” foi Dilma. Ela havia sido a ministra mais importante do país durante seis anos e Lula a escolheu para tentar sucedê-lo. A mídia a acusava de ser “desconhecida”. Um sinal de que ninguém acompanha as “importantes” análises midiáticas afinal, uma vez que a ministra mais importante do país por seis anos era tratada como uma desconhecida. Ganhou, governou e foi reeleita em 2014.
Lula é o principal nome político do país há pelo menos 29 anos. Desde 1989 o cenário que temos é dele contra alguém. Venceu em 2002 e foi reeleito em 2006 basicamente porque praticou a maior distribuição de renda com crescimento econômico da nossa história. Realizou, como já dito no primeiro parágrafo, com a ajuda de Haddad, o maior programa de inclusão de jovens de baixa renda no ensino superior. Aumento o salário mínimo real de meia cesta básica para três cestas básicas e meia. Tirou o Brasil do mapa da fome graças ao Bolsa Família, programa que passou a ser copiado em outros países do mundo, inclusive a Itália. Reduziu drasticamente os efeitos que as estiagens de períodos de seca causam na região Nordeste. Já percebeu como matérias televisivas sobre este assunto escassearam nos últimos anos? Conseguiu tudo isto graças a algumas alianças duvidosas com gente que não presta, é fato, mas é necessária muita ausência de empatia e de humanidade para não compreender e respeitar o amor que uma parcela significativa da nossa população tem pelo ex-presidente. Mais do que isto, a palavra certa talvez seja respeito.
Não há respeito na cobertura eleitoral da grande mídia. Quem assistiu às sabatinas do Jornal Nacional com os candidatos percebeu isto. Os jornalistas se esforçavam para deixar bem claro que eles não respeitavam os candidatos e que fariam o possível não para saber algo sobre propostas, mas para tirá-los do sério. Quase como o CQC ou o Pânico. Marina não teve espaço para fazer nenhuma proposta sobre meio ambiente. Alckmin foi cortado quando tentou falar sobre reforma política. Ciro foi ridicularizado quando tentou explicar seu programa de ajudar pessoas a limparem seus nomes. Tudo que pôde fazer foi pedir às pessoas que entrassem no seu site para descobrir, enquanto os jornalistas o cortavam para perguntar sobre seu temperamento. No momento que eu julguei mais bizarro, Bonner chamou Marina Silva de líder fraca. Marina teve mais de 20 milhões de votos na última eleição. Quem é Bonner para chamar uma pessoa como Marina de “líder fraca”?
Já na primeira fala da sabatina, Bonner chamou Haddad de “poste”. Esta postura deve se repetir nas próximas sabatinas. Haddad não foi perguntado sobre educação ou sobre a revolução que produziu na mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Passou os 30 minutos falando, basicamente, sobre casos de corrupção da gestão petista.
Quem acompanha o blog sabe que eu considero Fernando Haddad o melhor prefeito que SP já teve. Produziu, a meu ver, uma verdadeira revolução na cidade. Foi o primeiro a enfrentar verdadeiramente a ditadura do carro, priorizando totalmente o transporte público e a implantação de ciclovias. Priorizou a vida, reduzindo a velocidade nas Marginais, diminuindo o número de mortos na via e aumentando a velocidade média da circulação. Enfrentou a especulação imobiliária com um Plano Diretor extremamente elogiado por arquitetos. Geriu bem as finanças da cidade, tanto que elevou o grau de investimento da capital paulista mesmo durante a crise econômica. Liberou a Avenida Paulista para pedestres aos domingos, criando um verdadeiro parque de concreto aproveitado por milhares de pessoas semanalmente. Redefiniu a forma como o espaço público deve ser ocupado. Criou um programa de acolhimento a usuários de crack, que tiveram chance de tentar um recomeço profissional. Acolheu transexuais com o Programa Transcidadania, que deu cursos e empregos para pessoas que tantos preconceitos sofrem na nossa sociedade.
A população de SP não concordou comigo. Haddad perdeu sua reeleição para um candidato com discurso vazio e oportunista já no primeiro turno. Claramente a maioria das pessoas não compartilha minha visão. Em parte porque a eleição aconteceu durante o ápice do antipetismo, momento em que havia uma percepção de que a corrupção era praticamente exclusividade petista, em parte porque a população da cidade não enxerga com bons olhos as prioridades que Haddad escolheu. Não soube se comunicar com a maior parte da população. Tudo isto é fato. Mas debates políticos devem ser feitos com fatos e não com termos desrespeitosos. Haddad não é o poste de Lula. É o candidato apoiado por Lula. É extremamente capacitado e tem um trabalho pelo qual pode ser julgado positiva ou negativamente. Basta ter respeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário