Fernando Haddad é bacharel em
direito, com mestrado em economia e doutorado em filosofia. Integrou o
Ministério do Planejamento por dois anos e foi Ministro da Educação por sete
anos. Durante sua gestão, implantou o Prouni, que permitiu que milhões de
jovens brasileiros realizassem o sonho de realizar uma universidade, e realizou
a maior expansão do número de universidades federais da nossa história. Saiu do
ministério para concorrer à Prefeitura de São Paulo. Exerceu o cargo de
prefeito da maior cidade do país por quatro anos. Com experiência de sete anos
como ministro e quatro como prefeito, foi lançado como candidato à presidência
pelo PT na última semana, após a confirmação da invalidação da candidatura do
ex-presidente Lula. É este Haddad, sete anos ministro e quatro anos prefeito,
que a mídia apelida de “poste”.
O principal objetivo da adjetivação
“poste” é impedir que qualquer debate de qualidade se faça em torno da
candidatura Haddad. Um simples desrespeito pejorativo. Dos atuais candidatos à
presidência, considero que apenas Ciro Gomes e Geraldo Alckmin possuam mais
experiência administrativa do que o petista. Mas tanto faz. O importante
é repetir a palavra poste na função de adjetivo para causar o maior dano
possível.
Em 2010, dizem os “especialistas”,
o “poste” foi Dilma. Ela havia sido a ministra mais importante do país durante
seis anos e Lula a escolheu para tentar sucedê-lo. A mídia a acusava de ser “desconhecida”.
Um sinal de que ninguém acompanha as “importantes” análises midiáticas afinal,
uma vez que a ministra mais importante do país por seis anos era tratada como
uma desconhecida. Ganhou, governou e foi reeleita em 2014.
Lula é o principal nome político
do país há pelo menos 29 anos. Desde 1989 o cenário que temos é dele contra
alguém. Venceu em 2002 e foi reeleito em 2006 basicamente porque praticou a
maior distribuição de renda com crescimento econômico da nossa história.
Realizou, como já dito no primeiro parágrafo, com a ajuda de Haddad, o maior
programa de inclusão de jovens de baixa renda no ensino superior. Aumento o
salário mínimo real de meia cesta básica para três cestas básicas e meia. Tirou
o Brasil do mapa da fome graças ao Bolsa Família, programa que passou a ser
copiado em outros países do mundo, inclusive a Itália. Reduziu drasticamente os
efeitos que as estiagens de períodos de seca causam na região Nordeste. Já
percebeu como matérias televisivas sobre este assunto escassearam nos últimos
anos? Conseguiu tudo isto graças a algumas alianças duvidosas com gente que não
presta, é fato, mas é necessária muita ausência de empatia e de humanidade para
não compreender e respeitar o amor que uma parcela significativa da nossa
população tem pelo ex-presidente. Mais do que isto, a palavra certa talvez seja
respeito.
Não há respeito na cobertura
eleitoral da grande mídia. Quem assistiu às sabatinas do Jornal Nacional com os
candidatos percebeu isto. Os jornalistas se esforçavam para deixar bem claro
que eles não respeitavam os candidatos e que fariam o possível não para saber
algo sobre propostas, mas para tirá-los do sério. Quase como o CQC ou o Pânico.
Marina não teve espaço para fazer nenhuma proposta sobre meio ambiente. Alckmin
foi cortado quando tentou falar sobre reforma política. Ciro foi ridicularizado
quando tentou explicar seu programa de ajudar pessoas a limparem seus nomes.
Tudo que pôde fazer foi pedir às pessoas que entrassem no seu site para
descobrir, enquanto os jornalistas o cortavam para perguntar sobre seu
temperamento. No momento que eu julguei mais bizarro, Bonner chamou Marina
Silva de líder fraca. Marina teve mais de 20 milhões de votos na última
eleição. Quem é Bonner para chamar uma pessoa como Marina de “líder fraca”?
Já na primeira fala da sabatina,
Bonner chamou Haddad de “poste”. Esta postura deve se repetir nas próximas
sabatinas. Haddad não foi perguntado sobre educação ou sobre a revolução que
produziu na mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Passou os 30 minutos
falando, basicamente, sobre casos de corrupção da gestão petista.
Quem acompanha o blog sabe que eu
considero Fernando Haddad o melhor prefeito que SP já teve. Produziu, a meu
ver, uma verdadeira revolução na cidade. Foi o primeiro a enfrentar
verdadeiramente a ditadura do carro, priorizando totalmente o transporte
público e a implantação de ciclovias. Priorizou a vida, reduzindo a velocidade
nas Marginais, diminuindo o número de mortos na via e aumentando a velocidade
média da circulação. Enfrentou a especulação imobiliária com um Plano Diretor
extremamente elogiado por arquitetos. Geriu bem as finanças da cidade, tanto
que elevou o grau de investimento da capital paulista mesmo durante a crise
econômica. Liberou a Avenida Paulista para pedestres aos domingos, criando um
verdadeiro parque de concreto aproveitado por milhares de pessoas semanalmente.
Redefiniu a forma como o espaço público deve ser ocupado. Criou um programa de
acolhimento a usuários de crack, que tiveram chance de tentar um recomeço
profissional. Acolheu transexuais com o Programa Transcidadania, que deu cursos
e empregos para pessoas que tantos preconceitos sofrem na nossa sociedade.
A população de SP não concordou
comigo. Haddad perdeu sua reeleição para um candidato com discurso vazio e
oportunista já no primeiro turno. Claramente a maioria das pessoas não
compartilha minha visão. Em parte porque a eleição aconteceu durante o ápice do
antipetismo, momento em que havia uma percepção de que a corrupção era
praticamente exclusividade petista, em parte porque a população da cidade não
enxerga com bons olhos as prioridades que Haddad escolheu. Não soube se
comunicar com a maior parte da população. Tudo isto é fato. Mas debates
políticos devem ser feitos com fatos e não com termos desrespeitosos. Haddad
não é o poste de Lula. É o candidato apoiado por Lula. É extremamente
capacitado e tem um trabalho pelo qual pode ser julgado positiva ou
negativamente. Basta ter respeito.
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