sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A Falsa Polarização entre PT e Bolsonaro



A palavra “verdade” vem tendo uma definição extremamente frágil nesta eleição. A impressão que tenho é que cada um tem uma. Tenho uma conhecida que é eleitora do Bolsonaro, por exemplo, que vive claramente num mundo paralelo. Entrar no facebook dela significa ver a paranoia mentirosa em que este tipo de eleitor vive. Com a grande mídia não é diferente. Para tentar ajudar Geraldo Alckmin, criaram a fantasia de que PT e Bolsonaro são “extremos” comparáveis. O objetivo deste texto é tentar mostrar o tamanho desta mentira.
O governo do PT teve inúmeros defeitos. Para citar alguns, posso dizer que sem dúvidas as alianças com partidos inescrupulosos levaram a diversos casos de corrupção. O governo Dilma foi inegavelmente infeliz na condução da política econômica. Não podemos, porém, negar o óbvio: o PT SEMPRE, repito, SEMPRE, respeitou as regras do jogo. SEMPRE tomou suas atitudes de forma a se adequar e tentar vencer de acordo com estas regras. Mesmo em suas derrotas. Aceitou o resultado das urnas nas derrotas de 1989, 1994 e 1998 sem contestação. Tentou reverter o impeachment de Dilma dentro das regras estabelecidas. Tenta reverter a prisão de Lula também dentro destas regras, mesmo com o ex-presidente tendo uma facilidade gigantesca para obter asilo político em outro país. Tenta mobilizar a opinião pública mundial, mas em nenhum momento tentou derrubar as regras válidas. Um exemplo clássico para mim disto é a derrota de Fernando Haddad nas eleições municipais de 2016. Nenhuma pesquisa previa a vitória de seu oponente João Doria em primeiro turno. Quando esta aconteceu, Haddad em nenhum momento tentou contestá-la. Parabenizou seu oponente, montou no dia seguinte um gabinete de transição e participou da cerimônia de posse de seu sucessor. Lula, no final de seu segundo mandato, possuía 80% de aprovação. Isto não foi suficiente para fazê-lo sucumbir à tentação de um terceiro mandato. Recusou-se a alterar as regras. Também não utilizou o instrumento válido do plebiscito para nenhuma mudança constitucional. Ao contrário do que adora dizer a grande mídia, não aparelhou o Judiciário, sendo a perseguição que sofre deste Poder a maior prova disso. Foi Lula quem indicou, por exemplo, Joaquim Barbosa, carrasco petista no processo do mensalão.
A chapa Bolsonaro – Mourão, pelo contrário, já deixou claro que está, com o perdão do termo, cagando para as regras. Bolsonaro já contesta uma possível derrota que ainda não aconteceu, alegando fraude. Já está claro que não aceitará outro resultado que não a vitória. Já disse também que pretende alterar o número de juízes do Supremo de 11 para 21, podendo assim ter um Supremo cuja maioria fosse indicado por ele. Defende o Regime Civil-Militar de 1964 como modelo a ser seguido. General Mourão já disse também que defende uma intervenção militar. Os dois defendem a prática da tortura, incapaz de ser aceita num ambiente democrático, e já avisaram que tirarão o Brasil do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Diz Bolsonaro, entre outras coisas, o grande erro do Regime Militar foi ter matado “pouca gente”.
Outra tentativa que setores da grande mídia faz é de igualar comparar o “fanatismo” do eleitor lulista com o do eleitor bolsonarista.
O eleitor lulista adora Lula basicamente porque ele fez algo que melhorou a sua vida ou a de outras pessoas. O Bolsa-Família tirou o Brasil do mapa da fome. Milhares de famílias humildes viram seus membros mais jovens ingressarem na universidade, realizando um sonho que parecia impossível. A seca no Nordeste deixou de ter o impacto gigantesco que possuía até os anos 1990 graças a programas de apoio governamental. O salário mínimo, que comprava meia cesta básica ao final de 2002, comprava três cestas básicas e meia ao final de 2010. Milhões, desta forma, foram incluídos no “maravilhoso” mundo do consumo, que a publicidade tanto propagandeia como caminho para a felicidade. Cotas raciais foram adotadas na universidades federais, na primeira tentativa real em nossa história de reparar o grande erro histórico formador de nossa sociedade, a escravidão. É totalmente compreensível, portanto, o fato de uma senhora no semi-árido nordestino, que teve graças ao governo Lula, pela primeira vez, acesso a coisas que aqui em SP consideramos básicas, como tratamento dentário, tenha um enorme sentimento de gratidão a este líder. Podemos questionar sim o uso que o PT talvez faça disso, mas não podemos nunca, repito, NUNCA, deixar de respeitar o sentimento destas pessoas, que votam por gratidão a quem os ajudou.
Se a palavra que explica o “fanatismo” por Lula é gratidão, a palavra que explica o “fanatismo” por Bolsonaro é rancor. Se o eleitor de Lula vota no PT porque a vida de muitas pessoas melhorou durante seu governo, o eleitor típico de Bolsonaro vota no fascista porque quer ver a vida destas mesmas pessoas piorar. Em outras palavras, eles querem que as minorias que representem tudo aquilo que eles não são se fodam. No fundo eles querem que gays se fodam, por isso aplaudem quando seu candidato diz que crianças gays devem apanhar. Querem que negros se fodam, por isso não se importam quando o candidato é racista e faz piadas sobre quilombolas. Querem que mulheres se fodam, por isso não se importam quando seu candidato diz que uma deputada não é estuprada porque não merece. Simulam um ódio ao PT pelos defeitos do seu governo, principalmente a corrupção, mas não se importam em andar ao lado de gente como Eduardo Cunha quando possuem um objetivo em comum. Também simulam que são contra a criminalidade, mas aplaudem quando seu candidato faz apologia ao assassinato, ao estupro, ao racismo etc. Todos estes são crimes muito mais graves que corrupção, mas isto não importa. No fundo o que eles querem é um estado psicopata que elimine tudo que é diferente e que externalize todo o ódio e rancor que eles sentem por uma existência infeliz. Basicamente o eleitorado de Bolsonaro é composto por gente que leva uma vida de merda e odeia qualquer tipo de diversidade. O que explica sua opção por este candidato não é nada de bom que possa ser feito a alguém, mas o que pode acontecer de ruim a outras pessoas. Seres que nunca fizeram nada de ruim a estes eleitores aliás, mas cuja simples existência os incomoda, por serem "diferentes". São pessoas que, no fundo, só sabem desejar o mal e por isso um candidato como Bolsonaro as representa.
O segundo turno que se desenha será entre os dois “extremos” fabricados pela grande mídia Por mais que se fale em economia, a base da disputa será entre sentimentos. De um lado um eleitorado que vota por gratidão, amor, respeito e compreensão, com um partido que sempre respeitou as regras do jogo e a democracia. Do outro, um candidato que representa rancor, ódio, agressividade e julgamento, com um candidato que já deixou claro diversas vezes que não está nem aí para as regras democráticas. Minha dica é, de verdade, afaste-se das pessoas que tem alguma dúvida de que lado escolher no segundo turno. Elas não têm nada a te acrescentar. Aproveite que a eleição está tirando a máscara desta gente e escolha melhor quem faz parte da sua vida.

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