João Doria Jr. levou para sua
carreira no setor público a principal característica que marcou sua vida no
setor privado: a incompetência. Doria não possui nenhum trabalho bem-sucedido
no setor privado. Filho de um importante deputado e publicitário, Doria Jr.
conseguiu, graças ao prestígio e a riqueza do pai, empregos importantes nos
setores privado e público já em sua juventude nos anos 1980. Passou
despercebido como diretor de publicidade da Bandeirantes e foi demitido do
cargo de presidente da Embratur no governo Sarney após uma malsucedida campanha
publicitária para incentivar o turismo sexual no Brasil e uma infeliz (para não
dizer babaca) ideia de criar um “turismo da seca”. Passou os anos 1990 e 2000,
graças ao dinheiro do papai, comprando horários noturnos em canais de televisão
para fazer um fracassado programa de entrevistas, que muito raramente chegavam
a um ponto de audiência. A grande chance televisiva veio com a apresentação do
programa O Aprendiz, substituindo Roberto Justus em algumas temporadas, também
sem sucesso.
Neste meio tempo, ainda usando a
influência positiva do pai, Doria Jr. fundou uma empresa chamada Lide que
basicamente não produz nada. A principal função desta empresa é juntar
empresários a políticos, principalmente do PSDB, para realização de lobby. Foi
provavelmente desta proximidade que surgiu a ideia de entrar na política. Em
2016 tivemos a primeira eleição sem financiamento privado de empresas da nova
República, o que abriu espaço para os seguintes profissionais na nossa política:
profissionais de mídia, de esportes, de religião, do crime organizado e diversos
milionários excêntricos puderam comprar vagas como candidatos em grandes
partidos. Não à toa as três principais cidades do país naquela eleição elegeram
um milionário excêntrico, um pastor de igreja evangélica e um ex-presidente de
clube de futebol. Doria Jr. basicamente comprou a vaga de candidato no PSDB,
subornando delegados do partido nas prévias e pagando as dívidas que a campanha
ao governo do estado de Alckmin havia deixado em 2014. Toda a incompetência
demonstrada em sua vida nos setores público e privado até aquele momento foram
compensadas pela capacidade de Doria de entender qual o discurso que mais se
adequava à população naquele momento. Surfando na onda antipetista, Doria
conseguiu ser eleito no primeiro turno. Doria soube ler a mediocridade do eleitorado paulistano e se transformou em seu símbolo.
Sua gestão na prefeitura de SP
foi marcada pela ineficiência, pela ineficácia, pela paralisia e pela
pirotecnia. Doria soube como ninguém ler o que significa a tal da “nova
política”, registrando tudo que fazia, quase como num reality show, e
transformando intenções em realizações. Uma festa para inaugurar um banheiro
público no centro da cidade e outra para receber duas ambulâncias que ficariam
no acostamento da Marginal. Controle da notícia, o lançamento de uma pauta após
a outra para chamar a atenção e, principalmente, para que ninguém notasse que a
pauta anterior fracassou. O banheiro público foi fechado. As ambulâncias não
estão na Marginal.
Doria é simplesmente incapaz de
transformar algo em ato. Não consegue produzir nada. Prometeu vender tudo e não
conseguiu vender nada, por exemplo. Simplesmente não consegue. Todo mundo que
mora em SP sabe que foi só ele sair e, de certa forma, a gestão municipal
começou a andar. Goste-se ou não de Bruno Covas, o fato é que ele já conseguiu
neste pouco mais de um ano de gestão fazer mais do que Doria, até porque isto
não é difícil. Bastaria, sei lá, pintar uma rua e isto já seria mais do que
Doria. Goste-se ou não, foi só Bruno Covas assumir e ciclovias voltaram a ser
planejadas, o Parque Minhocão começou a sair do papel, assim como o Parque
Augusta, a Virada Cultural voltou a existir etc.
O principal motivo para Doria
sair da prefeitura foi, além de saciar sua sede por poder pessoal, que quanto
mais rápido ele saísse, maior era a possibilidade de esconder sua incompetência
e continuar vendendo o personagem que encontrou no setor público algum sucesso.
Deu certo. Puxando ao máximo o saco de Sérgio Moro e de Jair Bolsonaro, Doria
conseguiu eleger se apresentando como soldado na guerra contra o “comunismo”.
Não deixa de ser curioso que o pai de Doria, a quem ele deve sua carreira, foi
expulso do Brasil em 1964 por pessoas com o mesmo tipo de argumento de Doria
Jr. Na gestão estadual, Doria segue apresentando os mesmos “resultados” que
apresentou na gestão municipal. Não há nada acontecendo. E, no atual momento,
esta é a principal qualidade de Doria.
Vivemos a era mais terrível desde
a redemocratização. Nada representa mais isto do que o assustador vídeo do
governador do Rio, Wilson Witzel, sobrevoando uma comunidade pobre do estado
apontando uma metralhadora e atirando a esmo. O aumento assustador do número de
mortos em ações policiais no Rio mostra que, ao contrário de Doria, Witzel é “competente”.
Prometeu matar e está matando. Doria também foi eleito com esta promessa e,
embora os números mostrem também um aumento em mortes em confrontos policiais
em SP, não é nada que se compara ao que acontece no Rio. Também não há nada
indicando que vá conseguir tocar em frente as outras promessas de campanha. Ia
vender tudo, mas provavelmente não vai conseguir vender nada, falou que ia
fazer um super trem ligando SP e Campinas, mas ninguém se lembra disso direito.
É bizarro, mas ainda bem que Doria é incompetente.
A incompetência de Doria o torna
o político menos perigoso entre os quatro líderes mais importantes do país
hoje. Não tem a capacidade de destruição da psicopatia de Bolsonaro e Witzel e
da tosquice de Zema. Doria nem tenta mais fazer algo. Enquanto na prefeitura
ele pelo menos fingia que estava limpando as ruas, na gestão estadual ele nem
se preocupa com isso. Está viajando o mundo tentando defender as reformas de
Paulo Guedes para um público que já concorda com elas. Doria quer se apresentar
como opção para o mercado, abandonando completamente qualquer vontade de fingir
que faz algo para apostar na autopromoção pura e simples. Só precisa achar o
saco certo para puxar. Na eleição municipal, puxou o saco de Alckmin. Na
eleição estadual, puxou o saco de Bolsonaro e Moro. Resta saber numa possível
eleição em 2022 quem será o dono do saco a ser puxado. Tudo indica que vai ser
Paulo Guedes. Mas Doria sabe adequar às pesquisas de opinião.
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