Um lunático lendo a Bíblia nas
considerações finais. Este foi o principal momento daquele que considero o pior
debate da história da política brasileira. Ao menos dentre os que eu assisti. A minha frase favorita sobre o que
ocorre no Brasil desde 2014 é “o Brasil tomou LSD e o efeito não passa”. Não
sei quem é o(a) autor(a) da frase. A noite de ontem foi mais um momento do
efeito que não passa.
Quase ninguém assistiu ao debate.
Durante a sua exibição, a Band estava em quarto lugar na audiência, atrás
inclusive do Programa do Ratinho. A emissora comemorava durante a transmissão a
grande repercussão que o debate possuía nas redes sociais, repercussão causada
em grande parte pelo uso de robôs por quase todas as candidaturas.
Ricardo Boechat foi muito mal
como âncora. Permitiu que candidatos fugissem completamente ao tema das
perguntas e tentou fazer uma piadinha constrangedora com um dos candidatos.
Confundiu-se sobre as regras. Os demais jornalistas fizeram perguntas fracas.
A forma como debates são montados
no Brasil não permite nada diferente de respostas vagas e simplistas sobre
temas extremamente complexos. Não há como debater uma Reforma Educacional em um
minuto e meio com quarenta e cinco segundo de réplica. Só há espaço para
Alckmin repetir o slogan de “escola em tempo integral”, que promete e não
cumpre em SP nestes dez milênios em que comanda o Estado, ou para Bolsonaro
falar sobre o assustador, bizarro e medonho projeto de militarizar as escolas
públicas, que o PSDB de Alckmin tem utilizado em Goiás.
As redes sociais terão um papel
preponderante nesta eleição, talvez rivalizando com a televisão pela primeira
vez. Aparentemente os publicitários do candidato fascista foram os únicos que
perceberam isto até o momento, talvez por falta de opção. Em toda resposta, o
candidato fascista buscava criar um vídeo de um minuto e meio para ser
compartilhado em redes sociais com termos como “lacrou”. “Destaca-se” a ideia
de armar a população. O formato de debates é ideal para sua visão de mundo
distorcida, preconceituosa e para suas “propostas”. Corram para as montanhas.
O desempenho de Álvaro Dias foi
medonho. Baseado neste debate, é realmente inacreditável que ele já tenha sido
governador de um Estado. A pergunta parecia ser uma mera formalidade para o
candidato, que respondia sobre o que lhe dava na telha. Se Cabo Daciolo aposta
no “Glória a Deus”, Dias aposta no “Glória a Moro”, algo semelhante ao que
Doria tenta fazer em SP. Prometeu que, se eleito, transformará Moro em Ministro
da Justiça. Não se sabe se já falou com o juiz sobre o assunto. Apostar no “Deus”
da Lava-Jato para atrair os fascistas lunáticos que o amam parece ser a única
tática entre a repetição do pior slogan da história da política: “Abra o olho”.
O lado interessante é a contradição, uma vez que, ao mesmo tempo em que repete
que a Lava Jato deve agir livremente da política, sem interferência do governo,
o plano de trazer Moro para o governo é exatamente para que este passe a
interferir na operação.
Alckmin pareceu ser o alvo
principal dos demais candidatos. Num dos poucos momentos interessantes do
debate para mim, apontou o pluripartidarismo (no que se refere ao elevado número de partido, e não ao modelo em si) como principal problema político
do país, no que está certo. Infelizmente, não houve interesse dos demais
candidatos em aprofundar o assunto. Nos demais momentos, foi o Alckmin de
sempre. Assisto-o em debates desde 2002 e é sempre a mesma coisa. Repetição
eterna de coisas que não fez como se fossem slogans. Foi o que teve mais tempo
e não conseguiu chamar a atenção em momento algum.
Marina foi Marina. Proporá um
debate sobre todos os assuntos, enquanto busca fugir de todos os assuntos mais
espinhosos. Um outro momento que poderia ser bom no debate foi quando ela e
Ciro começaram a dialogar sobre a transposição do Rio São Francisco.
Infelizmente não houve tempo para que o diálogo fosse longe, provavelmente
deram espaço para Cabo Daciolo falar sobre Deus ou Álvaro Dias dar um sorriso
assustador.
Boulos se mostrou muito
articulado, mas falhou na tentativa de confrontar abertamente mais vezes os candidatos da
direita, especialmente Alckmin. Não teve oportunidade para isto. Merece créditos por ter trazido a pauta a discussão sobre o aborto. E também teve a coragem de chamar o candidato
fascista de racista e misógino, coisa que nenhum outro fez, uma semana depois
do vice deste candidato ter dito a frase mais racista da eleição. Combater o
fascismo deveria ser o foco de qualquer sociedade decente. O pior debate da
história, porém, mostrou mais uma vez que já deixamos de ser isto.
Ciro tenta se encontrar após o
fracasso de suas táticas de campanha. É, a meu ver, muito bem preparado, mas
não consegue falar numa linguagem popular. Ganhou pontos comigo ao acusar o
golpe em 2016, mas perdeu ao tentar elogiar Moro. Foi também muito pouco
perguntado.
Por último, o grande vencedor do
pior debate da história. Cabo Daciolo se mostrou o pior candidato desta
eleição, isto tendo como concorrente Bolsonaro. Foi o candidato mais comentado
no dia seguinte. A maioria das pessoas que conheço riu de todas as sandices que
ele disse. Também já rimos de Bolsonaro quando ele começou. Se a tragédia total
se aproxima, já temos um candidato à farsa. Um país que não conhece sua própria
história permite que dois personagens deste tipo surjam. Que Deus nos salve.
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