O futebol é hoje um dos
principais e mais bem-sucedidos instrumentos de lavagem de dinheiro e ocultação
de patrimônio. Não apenas no Brasil, mas principalmente no futebol europeu. Dos
principais times da Europa atualmente, creio que apenas Manchester United e
Liverpool estejam de alguma forma mais ou menos limpos. Barcelona e Real Madrid
são dois instrumentos de governos locais numa rivalidade nacional, recebendo
todo tipo de isenção fiscal possível. O Atlético de Madrid é financiado pela
ditadura que governa a ex-república soviética do Azerbaijão. A Juventus é um
instrumento de manipulação financeira da FIAT. O Bayern de Munique teve seu
último presidente preso por fraudes fiscais. O PSG é usado para lavar o
dinheiro de grupos ligados à ditadura que controla o Qatar. Todo mundo sabe.
Todo mundo finge que não sabe.
Nenhuma liga no mundo é hoje mais
dominada pelo dinheiro sujo ou mal explicado do que a Liga Inglesa. “O melhor
campeonato do mundo”, como gosta de alardear a mídia. Os três últimos campeões
são sustentados por mutreteiros. O Chelsea é financiado pelo bilionário russo
Roman Abramovitch, banido de seu país natal por ter praticado diversos crimes
financeiros. O Leicester é financiado por um milionário tailandês e o
Manchester City por dinheiro árabe, numa situação semelhante à do PSG. O Reino
Unido é hoje um dos principais paraísos fiscais do mundo. A regra britânica é
que qualquer pessoa que estiver disposta a investir um milhão de libras em
território britânico ganha automaticamente a cidadania, sendo prometido sigilo
bancário e proteção. É por isso que o país é destino de todo tipo de mafioso
vindo das mais diversas partes do mundo, especialmente Rússia, China, Turquia e
países árabes. Um dos maiores descontentamentos que a terra da rainha tinha e
ainda tem com a União Europeia é que de alguma forma o continente europeu
queria barrar a farra britânica. Algo semelhante começa a ocorrer agora na
Itália. Os dois times de Milão, Inter e Milan, foram vendidos para grupos
chineses.
Na temporada passada, um pouco
antes de uma partida de quartas-de-final de Copa dos Campeões entre Monaco e
Borussia Dortmund, uma bomba explodiu perto do ônibus que levava o time alemão
para a partida. No dia seguinte, descobriu-se que a bomba havia sido instalada
por um investidor. O Borussia tem sua ações negociadas na Bolsa de Valores e o
investidor havia apostado no dia anterior que o Borussia sofreria uma grande
desvalorização. Foi preso, mas ganhou alguma grana. Apostas. Emissoras de TV,
atletas e clubes são hoje financiados por sites de apostas. O maior
patrocinador do Hertha Berlin é um site de apostas. A ESPN Brasil tem uma
propaganda de site de apostas a cada intervalo. Alguns garotos propagandas são
comentaristas esportivos. Cristiano Ronaldo é a estrela de um dos sites. Isto
não se aplica apenas a futebol, aliás. Rafael Nadal também é patrocinado por um
site de apostas esportivas. Isto é antiético? Sim, muito. Mas muita gente ganha
muito dinheiro com isso. Então deixa quieto. Todo mundo sabe, todo mundo finge
que não sabe.
A maior participação de grupos
internacionais de lavagem de dinheiro no futebol estão inflacionando os valores
dos jogadores. Há poucas formas melhores para se lavar dinheiro do que
contratar um jovem jogador de futebol brasileiro por mais de R$ 1 bilhão de
reais. Ele vale isso? A resposta para a pergunta é indiferente. O objetivo não
é pagar o quanto ele vale. É lavar o máximo de dinheiro possível, contando para
isto com o silêncio da mídia, interessada em fazer parte do ciclo.
O primeiro processo deste tipo a
ter acontecido no futebol brasileiro foi sem dúvida o Palmeiras da Parmalat.
Interessada em “apresentar seus produtos” no Brasil, a Parmalat basicamente
comprou o futebol palmeirense e começou a formar esquadrões. Alguns anos depois,
descobriu-se que era basicamente uma fraude voltada para lavar o dinheiro da
empresa. “Descobriu-se”? Todo mundo já sabia. Todo mundo fingia que não sabia. Outras
parcerias parecidas aconteceram nos anos seguintes, sempre resultando em
craques, títulos e numa posterior falência, com a empresa midas quebrando ou
passando dificuldade. Flamengo – ISL. Fluminense-Unimed, Corinthians-Hicks. O
caso mais clássico de todos, sem dúvida alguma, é Corinthians-MSI. A sociedade
agiu passivamente à aparição de um iraniano morando na Inglaterra que trazia
dinheiro russo para contratar um craque argentino para o Corinthians. A
verdadeira globalização da picaretagem. Título, lavagem de dinheiro e
quebradeira se seguiram.
A nova etapa deste processo no
Brasil é a parceria Palmeiras-Crefisa. Sem querer afirmar absolutamente nada,
mas ela é no mínimo esquisita. Uma empresa sem nenhum vínculo esportivo começa
a, do nada, torrar um dinheiro absurdo num clube de futebol, aparentemente sem
receber um retorno. Leila diz que “ama o Palmeiras”. Como nos casos anteriores,
a ação da mídia é baseada em silêncio e elogios. O Palmeiras como um exemplo de
“gestão”. Em 2018, o Palmeiras-Crefisa ganhou seu segundo título brasileiro,
graças a um elenco milionário e desequilibrado do restante do campeonato. A
mídia comemora a esquisitice, passando propagandas da Crefisa e da Faculdade
das Américas no intervalo das partidas.
A palavra que define o ano de
2018 no Brasil é cinismo. Jair Bolsonaro venceu uma eleição tendo como base a
mentira. Todas as pessoas que o apoiam e votaram nele sabem que boa parte do
que ele diz é mentira. Repetem as mentiras sabendo que estão mentindo. Não
importa. A eleição foi decidida graças a uma canetada de um juiz, que prendeu
de forma arbitrária e sem provas a pessoa que provavelmente venceria Bolsonaro.
Como prêmio, este juiz foi chamado para ser ministro por Bolsonaro, com a
garantia que será indicado pelo Supremo. A situação é absurda? É. Está mais do
que claro que o juiz agiu politicamente? Sim. Para justificar, basta ser
cínico. Moro agiu de forma imparcial, diz o cínico. Bolsonaro venceu de forma
limpa, diz o cínico. Temos que torcer pelo seu sucesso, diz o cínico. A relação
Palmeiras-Crefisa é normal, diz o cínico. Bolsonaro recebendo a taça pelo
Palmeiras-Crefisa é o símbolo que faltava por ano. Os dois se reconhecem. Ambos
são fruto do cinismo. O Palmeiras-Crefisa puxa o saco do novo líder. Bate continência. O novo
líder se aproveita disso. O Palmeiras é o símbolo do Brasil de 2018. Sua conquista é fruto de relações econômicas controversas. Seu principal ídolo Dudu é condenado por agressão a mulheres. Seu segundo maior ídolo, Felipe Melo, tem como principal "mérito" o uso da violência. Corrupção e agressividade. Todos que estão em silêncio sabem, mas preferem calar. O futuro será implacável com os que hoje se calam. Quer apostar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário