segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

2015 / 2016 - A crise do brasileiro médio



2015 termina com a maior recessão econômica desde 1992, deixando um cenário nada animador para 2016. Crise política, econômica e uma sociedade rachada por um discurso muito mais próximo do ódio do que da união. O objetivo aqui é tratar esta crise não como algo momentâneo, mas como resultado de um modelo econômico expandido a partir de 1994, que acreditou que a melhora do nível do país estava quase que unicamente ligada à melhora no nível de consumo, sendo bem sucedido neste princípio raso durante 20 anos, mas que vive agora seu esgotamento. Não há nenhum interesse em desvalorizar as conquistas da estabilidade econômica obtida no governo tucano e, principalmente, dos avanços sociais obtidos na era petista. Pretende-se apenas mostrar como não se planejou um avanço na cidadania e como o lado consumidor sempre foi posto em primeiro plano.
O brasileiro médio é um consumidor voraz desprovido de autocrítica e de senso de reflexão. Sua principal motivação é a compra de produtos e serviços que, muito além de atender suas necessidades, possam servir para que ele se sinta e demonstre estar numa posição mais alta no conceito de estratificação social. Isto é verificado em certas situações insanas do ponto de vista lógico, como a troca do automóvel a cada 2 anos ou a compra de apartamentos cada vez menores e mais distantes, com prestações que duram uma vida, mas que se justificam na cabeça do comprador como qualidade de vida por ter uma piscina e uma academia. A grande vítima da crise de 2015, até o momento, é este brasileiro médio. Demitido por seu chefe na maioria das vezes incompetente, gestor em uma empresa gerida de forma ineficaz, terá que tirar seu filho da escola particular ruim em que o matriculou apenas pela segurança de tê-lo fora da escola pública, ficará 3 ou 4 anos com o mesmo carro e não sabe o que fazer com a prestação eterna de seu imóvel de 45 m² com varanda gourmet. Não possui a menor capacidade de enxergar-se como vítima de um modelo pouco sustentável de crescimento que engoliu a sociedade e seu único interesse é manter-se como ator passivo deste ciclo vicioso em que se sente vencedor ao realizar a tarefa de pagar as contas no dia 30.
Este brasileiro médio não se importa com a corrupção. Pode até fingir que está “indignado com a bandalheira”, mas só se sente incomodado mesmo quando percebe que ela não o beneficia. Não se sente culpado ao roubar TV a cabo, baixar aplicativos que o ensinem a fugir da lei seca, fazer download de filmes gratuitamente, falsificar carteiras de estudante ou comprar a carteira de motorista, entre outros. Não repreende o amigo que faz isso. Não se incomoda também com a corrupção na política, desde que isto não o atrapalhe na missão “sagrada” de pagar suas contas. Só lembra que a corrupção existe quando a economia vai mal e este é seu foco.
O Brasil é um país que funciona à base do jeitinho. PT e PSDB dividem o poder desde 1994, garantindo sua governabilidade através de alianças com o PMDB, obtidas através da distribuição de cargos e da criação de ministérios inúteis. Não deixa de ser irônico e simbólico que o período de maior estabilidade democrática da nossa história tenha se formado dessa forma e esteja em crise em parte graças à vontade do PMDB de ter mais. O brasileiro médio não se incomoda com isso. Sua única prioridade é manter a estabilidade do seu fetichista modelo carro – prestações – viagens à praia em feriados. A corrupção aparece como argumento nos momentos em que este brasileiro médio começa a achar que o governo não o está mais ajudando a consumir mais e que está mais difícil pagar suas contas. Não questiona a ineficácia do setor privado, pois isto seria de certa forma questionar a si mesmo e é fundamental colocar a culpa no “outro”, neste cenário representado pelo governo incapaz de continuar gerindo este modelo. Na sociedade brasileira, a corrupção é aquele mal que existe e se permite que exista, sendo usado como argumento fácil para criticar o governo de que não gostamos. Tucanos não se importam com o escândalo das privatizações e se chocam com o mensalão. Petistas vivem exatamente o inverso. No fundo não se importam com nenhum, apenas precisam de um argumento para criticar o governo que não gostam. O brasileiro médio age historicamente assim. Não se importava com a repressão e as história de tortura do governo Médici, pois achava que gozava das benesses do milagre econômico. A democracia só entrou na pauta quando a economia entrou em recessão, com a crise do petróleo fazendo desmoronar o projeto desenvolvimentista dos militares.
A era de ouro de consumo do brasileiro médio começou com o Plano Real, em 1994. A estabilização da economia foi o primeiro passo para o boom de consumo vivido especialmente nos anos 2000. Milhões de pessoas ascenderam a uma nova “classe C” e este fato foi muito mais propagado na mídia do que a verdadeira grande conquista do governo Lula, que foi o combate à miséria. Os dois governos, porém, foram incapazes de dar o passo mais importante, que era a expansão do conceito de cidadania no âmbito da educação de base. Não houve reversão no processo de desvalorização das ciências humanas, aquelas capazes de permitir o surgimento de uma sociedade mais pensante, autocrítica e reflexiva. Ampliou-se significativamente o número de vagas em universidades, mas se focando sempre apenas na geração de mão-de-obra em cursos como Administração e Marketing, de tal forma a agradar este brasileiro médio que enxerga também a educação como um produto a ser consumido.
O Brasil deveria aproveitar esta crise para debater este modelo econômico focado na ideia de consumo, em que o desenvolvimento social não é sustentado pela expansão da cidadania, e para questionar o funcionamento de seu modelo político à base da corrupção, um espelho da nossa sociedade aliás. Mas não o faz, porque seu cidadão médio não pensa, apenas age instintivamente pelo desejo de consumir mais. Tudo que ele quer é continuar comprando e pagando suas contas. O governo pode roubar, desde que não o atrapalhe neste ciclo vicioso de infelicidade e insignificância em que ninguém pensa. Não há um desejo coletivo real por uma sociedade melhor, apenas por um local em que se possa ser vítima da especulação imobiliário com mais tranquilidade.
2016 será um ano de alta tensão. Temos uma massa acéfala pronto para ser manipulada e com ódio, interessada no show midiático que se tornou o processo de impeachment. Ao incentivar um modelo de crescimento que enxerga o bem-estar social como algo fruto quase que única e exclusivamente do nível de consumo, o modelo tucano-petista estimulou uma sociedade cada vez mais individualista e supérflua, disposta a permitir a corrupção que o beneficie e revoltar-se com aquela que o deixa de fora quando o governo não agrada. O debate político se converteu num show de horrores, tratado como uma disputa entre torcidas. Não há um plano partidário de enfrentamento deste ciclo, o debate se concentra quase que exclusivamente em como fazê-lo voltar a funcionar, quando não há sustentabilidade a longo prazo para tal.
A primeira tentativa interessante de saída deste modelo tosco vem da prefeitura de SP. A gestão Haddad, voltada exclusivamente para o coletivo, foi abandonada por parte do PT, que o enxerga como responsável pela impopularidade do partido na cidade, quando a verdade está na recíproca. Enfrenta forte rejeição da torcida que se pinta de verde e amarelo para sair às ruas, o que é uma prova da incapacidade desta massa de enxergar a causa real dos seus problemas. Nada seria mais simbólico do que vê-lo perder para Celso Russomano, o defensor dos consumidores. O brasileiro médio não quer combater a corrupção. Também não quer saúde e educação. Só quer comprar cada vez mais. E pagar suas contas. Se possível, pegando menos trânsito.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Origens do totalitarismo


          

O título deste post é igual ao título de um livro clássico escrito pela filósofa judia alemã Hannah Arendt. Nele, a autora busca explicar como as pessoas se subjugaram à ideologia nazista e aceitaram passivamente os horrores de uma dominação totalitária. O totalitarismo, diz ela, não é fruto do acaso e sim resultado de anos de preparação ideológica, naquilo que o jornalista Paul Gourevitch, em sua obra sobre o genocídio de Ruanda dos anos 1990, chamou de ódio silencioso. Um processo histórico de rejeição aparentemente inofensiva criou um ambiente que permitiu que judeus perdessem gradativamente seus direitos de cidadania, chegando-se a um ponto em que a população geral estivesse preparada para aceitar um líder totalitário que conduzisse um genocídio contra o inimigo odiado por séculos. Todo regime totalitário é dependente do ódio, nenhum sentimento é mais facilmente usado para manipulação de massas.
Chico Buarque foi abordado num restaurante esta semana no Rio de Janeiro por um grupo de pessoas capitaneado por Álvaro Garnero Filho, que como o nome diz é filho do empresário apresentador de programas de viagem, e o rapper Tulio Dek, desconhecido musicalmente, mas famosinho no mundo das pseudo-celebridades por ter namorado a atriz global Cléo Pires. Os 3 não se conheciam, muito provavelmente nunca tinham se encontrado. Mas Garnero e Dek estavam com raiva de Chico. O motivo, suas ideologias políticas e seu apoio ao governo Dilma. A turma de Garnero foi tirar satisfação com o cantor com expressões como “você apoia bandidos”, “seu merda” e, finalmente, com “vai fugir Chico” no momento em que este chamou um táxi. A turma se sentiu não apenas no direito de incomodar uma pessoa que desconheciam questionando suas opiniões políticas como achavam que ele era obrigado a participar deste debate, “fugindo” do confronto.
Pessoas como Garnero não debatem conceitos, como ficou provado neste curto diálogo. Repetem frases feitas e xingamentos, questionando o estilo de vida de Chico Buarque, como se o fato dele defender melhor distribuição de renda, por exemplo, fosse um voto de pobreza. Não há espaço para reflexão e ideias, apenas para um ódio que neste caso se disfarça de ativismo político.
Nada é mais perigoso historicamente do que uma massa movida pelo ódio. Mais do que isso, um grupo de pessoas movido por este ódio e que é bajulado por tal. É assustador o número de pessoas que concorda com a ação de Garnero e a incentiva. As pessoas que praticam este tipo de ação são tratadas como justiceiras pelos que pensam iguais, aqueles que foram lá ‘ “disseram umas verdades”. Não há uma ação concreta da opinião pública condenando este tipo de atitude. As pessoas postam “Dilma, sua vaca” em redes sociais sem medo de nenhum tipo de punição e recebendo curtidas estimulantes de iguais. São as mesmas pessoas que reclamam, aliás, que o Brasil precisa de mais educação, sem entender o óbvio paradoxo entre o pedido feito e o tipo de xingamento que realizam.
Os opositores do atual governo foram às ruas e escolheram o verde e o amarelo como cores da sua indignação. Ao realizar esta escolha, colocaram-se como defensores da pátria e puseram todos os que estão do outro lado como inimigos do país. Simbolicamente é como se estivessem preparados para a guerra. O primeiro passo já foi dado, aborda-se e se incomoda uma pessoa que nada te fez de concreto apenas porque ela pensa diferente. Há o xingamento e o argumento típico de gente que quer brigar. “Vai fugir”?
A meu ver, o cenário totalitário já está assustadoramente preparado no Brasil. Há uma parcela significativa de pessoas movidas pelo ódio e com pouca capacidade de reflexão, movidas por um sentimento de pseudo-injustiça inflado por um empresariado bajulador, que critica impostos e aplaude subsídios. Pessoas com pouco conhecimento, mas que se julgam inteligentes e portadoras da noção do que são o bem contra o mal, não enxergando mais o rival como opositor, e sim como inimigo. Parte do projeto para afastar o atual governo democraticamente eleito do poder passa pela manipulação deste tipo de pessoa, que discerne bem e mal não por conceitos morais, mas pela vontade pessoal. O suposto moralismo disfarçado pelo discurso contra a corrupção logo é derrubado por atitudes como a praticadas contra Chico. Alvaro Garnero Filho acha que Buarque apoia um governo bandido. Quer fazer “justiça”. Qual o próximo passo? Hannah Arendt já nos contou.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A picaretagem de José Serra

 

No domingo 29/11 o senador José Serra publicou a foto acima da Avenida Paulista fechada para carros com o seguinte texto:
“Infelizes são os paulistanos! Dilma na presidência e Haddad na prefeitura. Vocês sabiam que os níveis de despreparo para governar de ambos se equivalem? Somos infelizes ao quadrado!
Hoje, domingo, fui visitar um amigo que mora perto da Avenida Paulista. A avenida foi fechada pelo prefeito, para lazer. E fica vazia, obviamente. No entorno dela, congestionamentos monumentais. Na ida, demorei meia hora para cruzar a Paulista. Na volta, mais quarenta minutos para sair do engarrafamento. Pensando bem a comparação com Haddad é injusta para Dilma.”
O texto é de uma picaretagem ímpar e mostra o quanto a má fé de um político pode jogar o nível de um debate lá embaixo.
Choveu muito em São Paulo neste dia. Muito. Caiu o mundo. E José Serra sabe disso. Diz estava visitando um amigo na região no dia e reclamou do trânsito. Podia ter ido de metrô, seria mais rápido. Mas independente disso, ele viu o que estava acontecendo na cidade e sabia o motivo da Paulista estar vazia. O Parque do Ibirapuera provavelmente estava vazio também. O senado quis usar isto para obter ganhos políticos. Não digo apenas que ele beirou o ridicularidade com este post, ele foi ridículo.
Tenho um grande respeito pela história José Serra. Vítima de duas ditaduras, construiu uma carreira política sólida. No seu período como ministro da Saúde, implementou o projeto dos genéricos que deveria ter a sua importância mais reconhecida do que é. O próprio PSDB não toca neste assunto, por algum motivo nunca vi Aécio falando sobre isto na eleição do ano passado. A quebra das patentes e a distribuição de remédios para os portadores de HIV foi elogiada em todo o mundo. Como governador de SP, adotou no metrô um projeto que havia sido implantado com sucesso pela prefeitura petista na capital, o bilhete único. Mostrava-se acima de picuinhas partidárias.  Este Serra, no entanto, parece não existir mais. O que existe é uma figura triste, disposta a usar qualquer tipo de picaretagem intelectual para ferir adversários políticos.

Fui à Paulista algumas vezes desde que começou este projeto e o que encontro é a apropriação daquele terreno por todo tipo de pessoa querendo se divertir. O espaço dos carros se transformou, num dia por semana, em local de entretenimento. São Paulo precisa de lazer e qualidade de vida. Qualquer pessoa tem liberdade para ser contrária a este projeto. Mas se o for, que o faça de jeito sério. Com este post, duvido que o senador Serra tenha ganho algum voto. O que fez foi prejudicar o debate sobre o assunto e manchar sua biografia. No próximo domingo, se for visitar de novo seu amigo, deveria ir de transporte público naquela região, é bem mais rápido. E se não estiver caindo o mundo como ontem, poderia passar na Paulista. Verá algo assim.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O PSEUDO INTELECTUAL PATRIOTA.


Temos várias pessoas no Brasil que sentem a necessidade de parecer que pensam fora da caixa, que têm uma visão única do mundo e que suas posições sobre diversos assuntos são revolucionárias e capazes de abrir a mente dos outros. Eu chamo de pseudo intelectuais. Dependendo da sua opinião eu serei um pseudo intelectual no final desse texto. Tudo bem, pode ser até verdade.

A última enxurrada de opiniões é sobre qual tragédia chorar. Estamos discutindo se é mais válido se entristecer por uma tragédia na França ou uma tragédia aqui em Minas Gerais. Vejo publicações nas redes sociais condenando a forma com que os brasileiros estão tratando a o ataque terrorista, colocando fotos de perfil com as cores da bandeira francesa ou compartilhando a súplica “pray for Paris”.
Os que questionaram o fato de que os outros estão mais preocupados com os franceses do que com os brasileiros não estão dando nenhuma aula de solidariedade e, muito menos, de amor ao próximo. Quantificar atrocidades é banalizar a morte e os supostos pensadores desse tipo de doutrina se colocam em um pedestal intelectual e social em que certamente não estão.

Comparar a tragédia de Paris com os atentados na Síria faz total sentido, por exemplo. Senti essa necessidade de "medir tragédias" quando analisei a cobertura da imprensa internacional sobre o atentado ao Charlie Hebdo e as atrocidades provocadas pelo Boko Haram na cidade de Baga (Nigéria), sendo que neste último a Anistia Internacional contabiliza em torno de 2 mil mortos. A diferença é que neste caso a revolta era mais com a imprensa do que com a população em geral.

O rompimento da barragem em Minas Gerais foi resultado de má gestão e negligência. Não existiu uma pessoa que propositalmente explodiu a barragem para prejudicar a cidade e seus habitantes. Foi um acidente em que 11 pessoas morreram de forma estúpida e a evitável, uma cidade foi destruída e milhares de famílias ficaram desabrigadas. A fauna e a flora da região levarão décadas para serem reconstruídas. Lamentável.

A comoção em torno do caso de Paris está baseada na clara vontade de um ser humano tirar a vida de outro. É a comprovação da falha da vida em sociedade, é a total descrença em um mundo melhor, pacífico ou tolerável. Atentados terroristas não devem ser comparados com acidentes nunca. O que os idiotas patriotas devem entender é que a divisão territorial é apenas uma linha imaginaria entre os países, que não importa se a tragédia é Mariana, em Paris ou em Baga, o que importa é que são vidas humanas desperdiçadas e SEMPRE um ato terrorista será mais grave que um acidente, pois o terrorismo poda a nossa esperança. O terror nos machuca física, mental e moralmente, abre feridas e mágoas que não curam.
Nem sempre pensar significa estar no lado oposto ao da maioria. Costumo dizer que nada é pior que o novo religioso e o novo ateu, já que os 2 acreditam que acabaram de descobrir uma verdade que os imbecis não enxergam. A necessidade de se expressar a qualquer custo faz com que as pessoas pensem de forma simplória e imediatista.

Ouvi nos últimos três dias todos os tipos de opiniões sem sentido que se possa imaginar. Há os que multiplicaram por 40 o número de mortos em Mariana apenas para basear sua tese ridícula. Outros se manifestaram com frases como: “Tanto valor para um país que nem conhecem”, “200 pessoas na boate Kiss e eu não vi ninguém em Paris chorando”. Tem gente fazendo relação dos refugiados sírios com o atentado.
Matar pessoas, seja lá quantas forem, com o objetivo de impor e calar é um crime contra a humanidade e a liberdade, não contra um parisiense.

Chore por Paris, chore por Baga, chore por Mariana. Esqueça as linhas do mapa.



Abaixo alguns tipos de absurdos vergonhosamente publicados:




quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Nizan Guanaes e o fracasso do empresariado nacional



Nizan Guanaes possui uma coluna na Folha de São Paulo. Quem acompanha o blog sabe que ela já foi assunto num texto anterior. Esta coluna é baseada em textos otimistas e autobajuladores, típicos de um publicitário. Guanaes usa técnicas de venda e não há nenhum espaço para reflexão. Sua última coluna é essa http://www1.folha.uol.com.br/colunas/nizanguanaes/2015/11/1704220-atacar-os-problemas.shtml#_=_ e o autor tenta apresentar o capitalismo como salvação para os problemas nacionais, assumindo o empresariado o papel de salvador e o governo o papel de vilão neste teatro inventado.
O empresariado brasileiro é, em geral, incompetente. Digo em geral porque é óbvio que neste mar de mediocridade que impera em nosso empresariado há pessoas capazes. Mas, em geral, é composto por pessoas incompetentes. Neste texto farei esta generalização tendo isto em mente.
 O principal motivo, a meu ver, do mau estado de boa parte das empresas nacionais não está no governo e sim na má gestão delas. Nosso empresariado é individualista, mimado, arrogante e completamente incapaz de realizar qualquer tipo de autocrítica. Mais do que isto, tenta inventar falácias intelectuais em que seus interesses de classe se tornam interesses nacionais, devendo ser defendidos mesmo por aqueles que não fazem parte da mesma camada social. Guanaes, por exemplo, ataca as nossas leis trabalhistas, “enraizadas nos anos 30, que dificultam a criação de empregos”. Na linguagem do autor, a principal função do empresário é criar empregos e esta é a hipocrisia empresarial que mais me incomoda. A principal meta do empresário é ganhar dinheiro e não há nada de errado nisso. O erro está em vender a ideia de que a finalidade é criar empregos, quando na verdade é o lucro. Se uma pessoa como Guanaes puder trocar 10 empregados por uma máquina para manter seu bônus anual o fará, sem pensar nas consequências.
Um exemplo claro da má gestão das empresas brasileiras é o estados das companhias aéreas. Nossas passagens são caras e o serviço costuma ser muito ruim, mas mesmo assim os aviões estão quase sempre lotados. Elas recebem milhões em incentivos governamentais e, mesmo assim, estão quase quebradas. Outro exemplo é nossa indústria automobilística. Nossas cidades têm um trânsito infernal e mesmo assim esta indústria recebia milhões em subsídios para entupir ainda mais nossas capitais de veículos. Este lucro irreal ia em boa parte para os bônus dos gestores destas companhias que, a partir do momento em que deixaram de receber estes subsídios, passaram a demitir. Não há pensamento no longo prazo, o que se quer é garantir o bônus do final de ano.
Guanaes e o empresariado adotam uma retórica que eu já critiquei em um texto anterior, que é a de que o trabalhador deve ser grato ao patrão que lhe dá a chance de trabalhar, conceito que existe, a meu ver, como resquício do período de escravidão. A frase mais forte do texto de Guanaes, a meu ver, é “Quem constrói uma empresa constrói empregos e riqueza. Quem constrói uma empresa constrói um país.” Guanaes está errado. A única coisa capaz de gerar riqueza é o trabalho, sendo o trabalhador responsável pela geração da própria riqueza e de um adicional que será repassado ao seu patrão. Sendo assim, a riqueza do trabalhador é fruto do seu próprio esforço, enquanto a riqueza do patrão é resultado do esforço de outras pessoas. A lógica seria que o patrão tivesse gratidão pelo trabalhador, e não o inverso. Mas a lógica está corrompida, em parte pelo trabalho de fraude intelectual cometido pelo empresariado e comprado por um grande número de trabalhadores oprimidos que sonham em assumir o papel de opressores.
Nosso empresariado, especialmente os que compõem este grupo e são da minha geração, possui pouca cultura. São pessoas com poucas experiências de vida, formadas principalmente em viagens inúteis sustentadas pelos pais na juventude e em cursos de MBA pouco produtivos. São acostumados apenas à bajulação e não entendem que é no confronto de ideias que está a raiz para o conhecimento. Não querem aprender nada, querem apenas ensinar, mesmo não tendo muito o que dizer. Tente um dia ter uma conversa com um pouco mais de conteúdo com um deles e você verá o que acontece.
Este grupo é incapaz de realizar qualquer tipo de autocrítica e encontrou no governo o bode expiatório perfeito para todas as suas desgraças. A culpa nunca é sua, é sempre de alguém, este é o lema. Vejo CEOs de empresas bancadas pelo BNDES e que têm estatais como grandes clientes pregando um liberalismo em que o governo deve apenas dar subsídios, sem cobrar impostos. Nunca veremos, por exemplo, uma pessoa como Guanaes criticando os gastos milionários da Petrobrás em publicidade e questionando qual o sentido de uma estatal monopolista gastar tanta verba nisso.
O plano para transformar o governo em inimigo e o empresariado em salvação está dando certo. Vejo cada vez mais pessoas de classe média usando o adesivo de um pato amarelo e dizendo que não aguentam mais pagar impostos. Vejo estas mesmas pessoas financiando apartamentos minúsculos usando um banco estatal e sendo maltratadas diariamente por um chefe arrogante, mas mesmo assim acham que a salvação do país está neste e não naquele. 
A valorização do individualismo e da meritocracia faz parte deste processo de idolatria ao empresariado. Você deve supervalorizar qualquer conquista medíocre obtida e se sentir uma pessoa especial por qualquer motivo. A meritocracia nos ensina que temos o que merecemos, que quem tem mais merece mais e quem tem menos merece menos. Assim sendo, o empresário é rico porquê "merece" e tudo é fruto apenas de um esforço pessoal, não tendo importância alguma tudo o que veio antes de nós. Mas duvido que muitos empresários tenham estudado sociologia. Mais uma inversão da lógica, uma vez que numa sociedade capitalista a sua importância está na quantidade de dinheiro que você faz girar, e não na sua importância. Ou alguém discute que qualquer professor tem uma importância social muito maior do que um publicitário como Guanaes? A meritocracia faria sentido se estivesse relacionada à importância social da pessoa, mas não está.
A crise brasileira é uma crise de modelo. A ideia de que o bem-estar está unicamente ligado ao consumo deveria ser questionada. Discutimos muito o PIB e quase nada o IDH. Mas não é o que acha Guanaes. Ele acha que precisamos de mais capitalismo. O exemplo grego em seu texto mostra que para ele só há uma solução para esta crise. Aprofundá-la. Assusta-me o número de pessoas que concordam com isso. 
No mês passado a agência África de Guanaes se envolveu numa polêmica. Uma foto de toda sua equipe mostrava apenas pessoas brancas e muitos questionaram o fato de uma empresa com este nome só ter funcionários brancos. Guanaes e o empresariado brasileiro querem ensinar o país a melhorar. Deveriam começar olhando um pouco para as próprias empresas.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A desigualdade racial no Brasil



A primeira etapa para a solução de um problema é o seu diagnostico. Alexandre Garcia num edital do Bom Dia Brasil há uma ou duas semanas negou a existência do racismo no Brasil até a criação das cotas raciais em universidades. Segundo ele, foram estas cotas criaram a divisão racial no Brasil. Desta forma, em sua visão, o problema não existia, é recente. Boa parte do seu público provavelmente acreditou. Numa sociedade em que a reflexão perde para o impulso e o texto foi subjugado pelo poder da imagem, não existe tempo para pensar. Precisa-se de alguém que faça isso pela maioria inerte e Alexandre Garcia cumpre este papel. Assume a posição de especialista que diz o que se deve pensar e concluir sobre um assunto. Não há espaço para debate em uma sociedade com pressa na realização de atividades inócuas e medrosa.
Sou um típico brasileiro branco de classe média, cercado em boa parte de pessoas brancas de classe média com típicos empregos de classe média. Boa parte delas são incapazes de enxergar que quase todos os seus colegas são brancos, que quase todos os seus chefes são brancos, que quase todos os restaurantes que frequentam só possuem pessoas brancas, assim como shoppings, casas noturnas, bares etc. E boa parte acredita que não há racismo no Brasil. E boa parte acredita na meritocracia. Em que momento perdeu-se a capacidade de pensar e de enxergar com o mínimo de reflexão o mundo que cerca?
O individualismo nos cega. O conceito propagado de meritocracia faz com que supervalorizamos qualquer conquista medíocre obtida e que achemos que ela é apenas fruto de algo conceituado como esforço pessoal. A falta de estudo de sociologia nas escolas na minha geração ajudou a criar uma geração egoísta que é incapaz de enxergar que somos frutos não apenas de nossas ações individuais, mas de tudo que aconteceu no nosso passado. Há todo um aparato intelectualmente fraudulento disposto a tornar o indivíduo cada vez mais arrogante e mesquinho. Para este tipo de indivíduo, basta um exemplo de sucesso (quase sempre o Pelé) para desqualificar qualquer tentativa séria de abordagem deste assunto. Não há choque com a violência causada pela desigualdade, o maior esforço é em negá-la, na maioria das vezes desqualificando a relação entre pobreza e cor da pele.
A escravidão foi o maior e mais importante crime já cometido no Brasil. Suas raízes permanecem vivas até hoje, 127 anos após o seu fim. Gerou uma desigualdade óbvia, mas “invisível” diante de uma geração incapaz de pensar observando o que está a sua volta. O primeiro passo para enfrentarmos esta questão é a aceitação que ela existe. Isto exige reflexão e noção de que há algo mais importante do que o próprio umbigo.
Tratar os desiguais de forma igual aumenta a desigualdade. Isto é um princípio jurídico e econômico. A população negra sofreu um crime perpetrado por um modelo econômico de séculos passados do qual fez parte o Estado brasileiro. Nenhum brasileiro vivo tem hoje alguma culpa por aquilo. Mas somos todos culpados se continuarmos incapazes de enxergar as consequências deste crime na nossa sociedade atual e se nada fizermos para consertá-la. O primeiro passo é o diagnóstico do que vemos e não notamos. A cumplicidade silenciosa também é criminosa, fruto da forma banal como enxergamos as injustiças à nossa volta.
As cotas raciais são o começo da solução e vem obtendo sucesso apesar de todo o aparato criado para desqualificá-las. Ver universidades brasileiras se diversificando é um início de alento para quem se sente agredido com esta situação. Se você acredita no que disse Alexandre Garcia, compre um livro de história do Brasil. E se acredita na propagada democracia racial brasileira, veja a foto que dá início ao texto. É do jogo entre Brasil e Colômbia nas quartas-de-final da copa de 2014 em Fortaleza. Segundo o IBGE, 76% da população desta cidade é negra. Para quem é capaz de enxergar o óbvio, esta foto diz tudo. Quem não é, faz parte do grande problema, o racismo silencioso de todos os dias.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O vício em sexo e o silêncio



Nossa sociedade é viciada em sexo. Nenhum vício é tão usado para dominar e alienar quanto este vício. Nenhum produto vende tanto. A publicidade que nos ronda deixa bem claro que não há felicidade possível sem uma boa vida sexual. Queira fazer sexo, sempre. Isto funciona principalmente para o sexo masculino. Toda propaganda mostra o macho alfa como exemplo. É o cara rico e gostosão comprando o carro fodão e ganhando em troca o sorriso de uma mulher gostosona. É o cara nem tão rico e nem tão gostosão ganhando o sorriso de uma mulher gostosona. Você só será feliz trepando, para isso, compre. Passamos mais tempo pensando em sexo do que em qualquer outro assunto.
O macho alfa nunca fracassa. Portanto, nunca broxa. Muita gente acha que a vida só vale a pena se nele houver sexo. Muita gente é estimulada a isso. Não há vida sem sucesso. Não há vida sem sexo. Como um viciado em cocaína disposto a tudo para atender o seu vício, estamos dispostos a tudo para conseguir uma ereção. Mesmo que isto arrisque nossa saúde.
Em 1998 surgiu o Viagra, remédio com grande eficácia no combate a disfunção erétil. Nos 3 anos seguintes, a Pfizer lucrou mais de US$ 1 bilhão de dólares com a venda deste produto. No Brasil, a venda deste produto e de similares hoje chega a 30 milhões de unidades por ano. Poucos produtos são tão lucrativos, afinal, nenhum é tão bem sucedido em explorar o nosso vício sexual quanto este. O principal efeito colateral deste remédio é o aumento do risco de ataque cardíaco e de AVC. Qual a frequência com que isto acontece? Não sabemos.
O jogador de basquete Lamar Odom foi internado esta semana após o uso excessivo de um produto similar ao Viagra durante uma orgia num prostíbulo nos EUA. Nada é mais sintomático do que um viciado em sexo estar disposto a pagar pessoas para que tenham relações sexuais com ele. Mais do que isso, ele precisava garantir a ereção, para isto tomou doses de Viagra. Está quase morrendo. Alguns sites noticiaram que foi por uso de Viagra, outros não.
Por que há um silêncio e uma falta de pesquisas sobre o número de pessoas vítimas deste tipo de medicamentos? Por que não temos nenhuma pesquisa séria sobre este assunto? Por que órgãos de imprensa não noticiaram que o ataque foi fruto de uso de medicamentos contra impotência? A resposta, a meu ver, é financeira.
Sexo vende e um produto que permite que o sexo aconteça tem um potencial financeiro gigantesco. Empresas farmacêuticas gastam milhões em publicidade e estão entre as maiores financiadoras das empresas de comunicação. Sexo é vida, repete-se sempre. Pode-se até noticiar que você deve procurar um médico, mas não se noticia se alguém morre por este assunto. Isto prejudicaria vendas. Por isso, não há números nem um rosto famoso que seja reconhecidamente vítima deste medicamento. Odom é o primeiro famoso que eu lembre, mas o assunto está sendo abafado. O que causou seu problema já não recebe a atenção que recebe a visita que recebeu no hospital de uma ex-namorada, da família Kardashian (não sei se escrevi certo). Provavelmente quando o assunto for tratado futuramente, Odom será objeto de piadas e não de conscientização.
Sexo é um vício e todo vício é uma forma de opressão. Todo viciado é um dominado, tanto pelo produto quanto pela pessoa que o fornece. Somos uma sociedade com um vício que não é debatido, pelo contrário, é estimulado, pois assim somos mais alienados e facilmente comandados. Passamos boa parte do tempo tratando do assunto sexo e em como necessariamente uma boa vida sexual significa felicidade. Muitos que recorrem a estes medicamentos não sabem os riscos que estão correndo, uma vez que o assunto não é tratado da forma como deveria por interesses do capital. Outros recorrem a estes produtos mesmo sabendo os riscos que estão correndo. No primeiro caso, há simples ignorância estimulada pela má fé de um sistema que coloca a exploração de um vício acima de qualquer outra coisa. No segundo caso, a questão é mais perigosa. Há pessoas dispostas a morrer para saciar seus desejos sexuais. Neste caso, o problema real e não discutido não está na falta de ereção. Está no fato de que muitos acreditam que a vida e tudo que ela oferece só vale a pena se houver sexo. Há uma inversão séria de valores. Invisível, não debatida, explorada e, acima de tudo, lucrativa. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

FELIZ DIA DO PROFESSOR


O governo de São Paulo fechará escolas.

Essa é a manchete dos veículos de comunicação nas últimas 2 semanas. Uma manchete que nos leva a pensar “Meu Deus! Que absurdo este governo está fazendo”. Como eu sou o cara do contraponto, estou aqui para combater as unanimidades e, principalmente, o desconhecimento de causa.
Sempre no blog tentamos encontrar coisas boas onde poucos enxergavam, além de tentar atacar os que eram idolatrados. Defendemos em alguns pontos o Haddad, a Dilma, a Mc Melody e seu pai. Criticamos o Aécio, o PMDB, os coxinhas, o Alckmin. Agora chegou a hora de defender... O Alckmin?!?

A manchete acima é tendenciosa e choca qualquer pessoa. Inicialmente quero dizer que a educação pública é, em geral, uma porcaria em todo o país. Estudantes cada vez menos preparados tentam sem sucesso um lugar na instituição pública de ensino que funciona, a Universidade. Infelizmente essa é uma área reservada para aquele que menos precisa e é mais preparado, o aluno de escola particular. Não por acaso nos últimos 20 anos a participação desse tipo e aluno no ensino estadual passou de 13% para 18%. Nesse mesmo período, a quantidade de alunos matriculados no ensino privado aumentou 22%, enquanto a de escola pública regrediu 15%. Se os alunos migram para o ensino privado é porque este é melhor. Triste. Devemos isso ao próprio governo tucano e a sua progressão continuada.

O governo alega que dará outra finalidade às escolas porque tem mais vagas do que precisa. Podem usar escolas vazias como creches, por exemplo. Além de remanejar alunos das escolas que serão fechadas, a Secretaria de Educação quer dividi-las em 3 tipos: de 1º ao 5º, de 6º ao 9º, além do Ensino Médio. Nesse ponto, não há como não defender a medida. Separar alunos por idade é a coisa mais sensata a ser feita e não precisamos de mais delongas.

O governo diz que temos mais vagas do que precisamos por 2 motivos, embora eu considere 3. Primeiro que há uma migração dos alunos de escola pública para a particular nas últimas décadas, como exposto acima. Segundo que os casais estão tendo menos filhos, não à toa o nosso país está ficando mais velho, e com isso são menos crianças nas escolas. O terceiro motivo é que a escola pública é uma merda mesmo, caso o contrário não teríamos o primeiro motivo.
Em uma rápida pesquisa em informações oficiais da Secretaria da Educação de SP e do IBGE, constatamos serem verdadeiras as 2 razões apresentadas pelo Sr. Geraldo. Além disso, o Estado de SP segue uma tendência nacional de transferência da Educação para as prefeituras. Hoje no Brasil 66,5% das matrículas em escolas públicas são municipais. Em SP a proporção está 51,3% para o Estado contra 48,7% para os Municípios. Em 1995 os municípios de SP possuíam 677 mil alunos, hoje são mais de 2,3 milhões. Na contramão o Estado que possuía 6,5 milhões hoje tem menos que 3,8 milhões. Além de receber os prédios do Estado, os Municípios também constroem suas unidades, resultando em mais vagas ociosas.

As matrículas no ano de 1995 somaram 8,2 milhões (público + privado), já em 2014 foram 7,4 milhões. Se observarmos que entre os censos de 1991 e 2010 a população do Estado de SP cresceu 31%, qual a explicação para que as matrículas gerais tenham se reduzido em 10%? A população tem menos filhos e está mais velha.
Para comprovar de forma mais detalhada como os alunos de escola pública estão migrando para a particular, observe que em 1995 tínhamos 7,2 milhões de alunos matriculados na escola pública contra 1 milhão do ensino pago. Hoje esses números mudaram para 6,1 milhões e 1,3 milhões, respectivamente. Para bom entendedor do blog, esses números bastam.
O governo está lá para cortar gastos excessivos e investir onde mais é necessário. Seja qual for a real intenção, para reinvestir na educação ou tampar rombos passados, o governo deve reduzir custos sobressalentes, pois esse é o meu e o seu dinheiro. Deus queira que essa economia se reverta em benefício para os alunos que estão lá estudando e que não fiquemos colocando dinheiro para garantir vagas que nunca serão preenchidas.

Eu acho que os argumentos da oposição são muito fracos. “O governo é ladrão” e “o governo quer você burro” são os mais toscos. Todo governo é ladrão, pois o sistema é ladrão, mas nem toda atitude do governo é para prejudicar a população. O Estado não vai acabar com as vagas, apenas com as escolas.

Ouvi em uma entrevista que os alunos são apegados emocionalmente às escolas e aos funcionários. Além de pouco importar, isso é mentira. Aluno é apegado aos seus amigos, que por sinal migrarão com ele para outra escola, caso necessário.

“Os alunos terão que estudar mais longe”. Pode ser que sim, pode ser que não, em todo caso será apenas 1,5Km de onde já estuda hoje, caminhando com tranquilidade são 15 minutos.

“As escolas estão superlotadas”. Eu estudei em escola pública por toda a vida, sempre com 40/ 45 alunos, o que eu considero um bom número se eles tiverem um pingo de educação e respeito com o professor. Nas escolas particulares não é diferente, mas se fizer merda lá, tá fora.

Quantidade de escolas não se traduz em qualidade de ensino. Hoje temos muitas escolas e o ensino é fraco. Prefiro um mundo com menos escolas e mais recursos, ou melhor, os mínimos recursos, coisa que não temos hoje. Computadores sucateados, internet que não funciona, laboratórios fechados e bibliotecas paupérrimas são as condições atuais das escolas de São Paulo.

Os grandes e verdadeiros opositores dessa medida são os funcionários da educação e suas associações de classe. Exceto os concursados, muita gente vai perder o trabalho. Diretores, inspetores e professores contratados serão demitidos e é isso o que realmente incomoda. A maior arma desse grupo é trazer os alunos e seus pais para o seu lado. Muitos votos, rapaz!

O aluno não quer mudar de escola, claro. Se ele estuda ali é porque gosta, é mais perto, mais fácil para ele. O aluno não quer mudar, ele pouco se importa se o governo vai economizar, ele é uma criança, ele é um adolescente, por isso mesmo esse é mais um argumento fraco. Ele quer porque ele quer... eu quero tanta coisa. Escolas de bairro para os menores, escolas de centro para os maiores, passado o impacto nessa geração tudo será muito normal, como ocorre nos EUA. Pegar ônibus não faz mal a ninguém e até faz bem.

Vamos cobrar melhoria no ensino e na remuneração dos professores. Vamos lutar para que essa economia seja reinvestida na educação. Não precisamos apenas olhar as manchetes e muito menos nos transformar em marionetes de pessoas que lutam apenas pela sua classe.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

A transformação de Marta Suplicy e uma decepção política



Poucas pessoas têm a importância para a pauta progressista em SP nos últimos 30 anos de Marta Suplicy. Psicóloga e sexóloga, tornou-se famosa graças a um quadro revolucionário no programa TV Mulher da Rede Globo nos anos 80, em que falava sobre sexo do ponto de vista feminino. Num país retrógrado, ainda vivendo uma ditadura militar, poucas coisas foram tão progressistas quanto a imagem de uma mulher independente e confiante falando sobre sexo na televisão, sem culpa e de forma natural.
A entrada na política veio graças ao então marido, Eduardo Suplicy. Ganhou importância no PT e recebeu a possibilidade de concorrer ao governo do estado em 1998. De forma surpreendente, terminou na terceira colocação, ficando muito perto, mas muito perto mesmo, de tirar Mário Covas do segundo turno, onde este derrotaria Paulo Maluf. Aquela eleição serviu de trampolim para sua primeira e única vitória numa eleição para o Executivo e Marta foi eleita prefeita de São Paulo em 2000. Adotando uma postura de defesa das minorias e dos marginalizados, ela derrotou o mesmo Paulo Maluf e substitui Celso Pitta, que deixou a cidade quebrada.
Seu mandato foi em certa medida revolucionário. Fernando Haddad não poderia realizar as transformações que tem realizado no transporte público da cidade se não fosse o trabalho de Marta no começo do século. Ela criou o bilhete único e investiu como nenhum outro prefeito antes de Haddad no conceito de corredores de ônibus. Baseada no conceito do Cieps de Brizola, Marta criou o mais importante projeto de educação de base do Brasil neste século, o CEU, em que implantou na periferia da cidade super-escolas que levavam não apenas educação da forma mais “convencional”, mas também lazer, cultura e esporte. Não à toa é amada, de forma justa, nas regiões mais pobres da cidade. O PT deve a ela boa parte dos votos que recebe por lá até hoje. Em 2004, porém, foi derrotada por José Serra na eleição em que tentava um segundo mandato. Foi uma eleição tensa, em que a petista definitivamente não contou com a boa vontade da mídia, mais ou menos a mesma coisa que acontece com Fernando Haddad hoje. Foi estigmatizada com o termo “Martaxa” ao tentar criar um imposto sobre o lixo que possibilitaria um aumento de arrecadação numa cidade que vinha de um processo de destruição de finanças pela gestão anterior. Mas foi ali, com aquela derrota, que Marta começou a mudar sua postura e a colocar seus interesses pessoais à frente de interesses coletivos. Um pequeno e quase imperceptível gesto mostra isso. Marta não estava na cidade para transferir o poder a seu sucessor. Tinha ido passar o réveillon em Paris. Nada contra aproveitar o réveillon fora da cidade, porém uma das obrigações do seu cargo é esta transmissão de poder ao sucessor. É um símbolo da democracia e deve estar acima de qualquer chateação pessoal.
Quatro anos depois, Marta seguia como nome mais forte do PT na cidade e conseguiu mais uma vez a oportunidade de disputar a prefeitura de SP. Num segundo turno contra o então prefeito Gilberto Kassab, Marta protagonizou um dos momentos mais tristes da história da política brasileira, rivalizando com Collor levando a ex-namorada de Lula à TV em 1989. A campanha de Marta, histórica e incansável defensora dos direitos civis dos homossexuais no país, levou ao ar na última semana de campanha uma propaganda de televisão que deixava implícita a mensagem de que Kassab poderia ser homossexual (É casado? Tem filhos?). Aquilo pode ter ido ao ar sem que Marta soubesse, porém a então petista não pediu desculpas em nenhum momento. Ela perdia assim sua segunda eleição seguida para a prefeitura, dessa vez sem honra nenhuma. Era o segundo sinal de que algo estava se perdendo dentro dela.
Em 2010, Marta disputou venceu a disputa para o Senado, não assumindo seu cargo no ano seguinte ao receber da presidenta Dilma um convite para ser Ministra da Cultura. Ela já havia sido ministra do Turismo no governo Lula, em que se notabilizou pela infeliz frase “relaxa e goza” durante um período de caos aéreo. A frase foi apenas um momento de infelicidade, mas foi supervalorizada pela mídia e pelos setores descontentes com a figura ainda progressista que Marta representava. Em 2012, o ex-presidente Lula, notando a imagem desgastada de Marta em alguns setores da população paulistana, convenceu o partido a lançar uma figura nova, Fernando Haddad, para a disputa da prefeitura. A ex-prefeita ficou imensamente descontente, mas aceitou e até ajudou na eleição do colega de partido. Em constantes choques com a presidente Dilma, iniciou uma campanha interna para lançar Lula como candidato a presidente em 2014, ficando isolada na legenda após esta derrota. Sabendo que não tinha possibilidade alguma de conseguir a vaga para a disputa da prefeitura em 2016 pela legenda petista, resolveu chutar o balde.
Marta tornou-se uma grande crítica do único prefeito a ter uma gestão tão transformadora quanto ela. Mais do que isso, usando o argumento de que “não aguenta mais a corrupção”, passou a criticar o governo federal do qual foi ministra em 2 gestões por quase 7 anos e se filiou ao partido mais corrupto do Brasil, o PMDB. Em nome de uma ambição pessoal, Marta se esforça para jogar fora uma vida pública voltada para as transformações sociais e para o progresso, ligando-se a um partido que representa o que há de mais retrógrado na sociedade brasileira. Nada é mais decepcionante para uma pessoa que admira a história de Marta do que vê-la ao lado de Eduardo Cunha, homem que representa o oposto de tudo que ela se notabilizou por defender. Mais do que isso, ao entrar no PMDB dizendo que vai “combater a corrupção” tudo que a ex-prefeita conseguiu foi se tornar motivo de chacota.
O processo de transformação de Marta, motivado a meu ver por um ego pessoal gigantesco, chegou dessa forma ao seu fim. Para ter a tão sonhada candidatura própria, Marta jogou fora sua história e prejudicará a candidatura da pessoa que hoje mais representa o modernismo na cidade, Fernando Haddad. Marta tem e sempre terá seus méritos, mas hoje é um símbolo de como a ambição pessoal pode corroer e se sobrepor às ideologias de uma pessoa. Por enquanto, tudo que ela conseguiu foi decepcionar antigos eleitores.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

11 fatos sobre 11 anos de tênis masculino



Circula essa semana na internet uma notícia interessante, que sinceramente não sei se é verdadeira, mas é interessante. Um espanhol de nome Jesus Aparício, grande fã de Roger Federer, teria entrado em coma no final de 2004 e acordado apenas em 27 de agosto deste ano. Em um dado momento se lembrou de perguntar por Federer, querendo saber como tinha sido a carreira do suíço. Ficou muito surpreso ao descobrir que Federer não apenas ainda jogava como era número 2 do mundo. Jesus teria assistido à final do US Open entre o suíço e Novak Djokovic e teria ficado impressionado com a qualidade do jogo não só do suíço, mas como também do sérvio. Verdadeira ou não, você pode ler esta história no link a seguir http://bolamarela.pt/espanhol-acorda-do-coma-apos-11-anos-e-surpreende-se-com-a-longevidade-do-idolo-federer/ e, graças a essa história, fiz a lista dos 11 fatos ou momentos mais importantes do tênis masculino nos últimos 11 anos, que a meu ver foram os anos de ouro deste esporte graças aos 3 da foto acima. 

1 ) Apenas três tenistas foram número 1 do mundo neste período: Roger Federer, Novak Djokovic e Rafael Nadal. Para se ter uma ideia do que isto significa em domínio, apenas na temporada 1999 houve 4 tenistas que alcançaram este posto: Pete Sampras, Yevgeny Kafelnikov, Patrick Rafter e Andre Agassi.

2 ) Foram disputados 44 Grand Slams neste período, com oito vencedores diferentes: Nadal (14), Federer (13), Djokovic (10), Andy Murray (2), Stan Wawrinka (2), Juan Martin Del Potro (1), Marat Safin (1) e Marin Cilic (1). Para  se ter uma ideia do que isto significa em domínio, entre as temporadas 2002 e 2003 houve oito Grand Slams com oito vencedores diferentes: Thomas Johansson, Albert Costa, Lleyton Hewitt, Sampras, Agassi, Juan Carlos Ferrero, Federer e Andy Roddick.

3 ) Dos 44 Grand Slams do período, apenas 2 vezes não tivemos na final Federer, Nadal ou Djokovic: Aberto da Austrália de 2005, com Safin e Hewitt, e US Open de 2014, com Cilic e Kei Nishikori.


4 ) Roger Federer x Rafael Nadal é o único confronto da era aberta entre dois tenistas que já venceram os 4 Grand Slams. Novak Djokovic já venceu os dois ao menos uma vez em cada um dos quatro Slams.

5 ) O tenista que mais ameaçou os 3 foi Andy Murray. Escocês, tornou-se em 2013 o primeiro britânico a vencer Wimbledon na era aberta. Seu título foi motivo para grande festa, com a presença do príncipe e do primeiro-ministro em quadra. Um ano depois, porém, o amor acabou, quando Andy declarou apoio à independência da Escócia durante o plebiscito. Os ingleses estão meio putos com ele até hoje.


6 ) Rafael Nadal tem vantagem no confronto direto contra todos os tenistas que enfrentou ao menos 2 vezes, com exceção do alemão Dustin Brown. Está 2 x 0. *


7 ) Em 2006 aconteceu aquele que julgo o jogo de tênis mais bizarro da história. À época ninguém imaginava que Rafael Nadal, campeão de Roland Garros, pudesse um dia ganhar Wimbledon e alguém teve a brilhante ideia de colocá-lo para jogar contra Roger Federer, campeão na grama inglesa, numa quadra metade de saibro e metade de grama. Ofereceram um caminhão de dinheiro para os dois que, lógico, aceitaram. O que se viu foi um jogo esquisitíssimo, com os dois tenistas tendo que trocar de calçado a cada virada de lado. No final, Nadal ganhou.


8 ) Em 2012 o Masters 1000 de Madri foi realizado em saibro azul. A ideia da organização era de criar um certo marketing para o torneio, mas foi um fracasso. Grande parte dos tenistas reclamou que mal conseguia ficar de pé naquilo. Roger Federer foi o campeão e o saibro azul foi abolido.


9 ) Ainda no Masters 1000 de Madri, mas um ano antes, os 4 semifinalistas foram: Novak Djokovic, Rafael Nadal, Roger Federer e... Thomaz Belucci !!!


10 ) Os EUA não ganham um Grand Slam há 12 anos. É o maior jejum da história do país mais dominantes do tênis masculino.

E finalmente, o fato que julgo ser o mais importante destes 11 anos de tênis:

11) O dominicano Victor Estrella Burgos venceu seu primeiro jogo de Grand Slam no US Open de 2014 aos 33 anos, tornando-se o jogador mais velho a vencer sua primeira partida de Grand Slam na história. * Um ano depois, Burgos venceria aos 34 anos o ATP de Quito, tornando-se o tenista mais velho a vencer seu primeiro título de ATP. Vida longa a Estrella Brugos !

terça-feira, 8 de setembro de 2015

A BABAQUIZAÇÃO DO FUTEBOL


Como sempre eu venho aqui escrever textos mais fúteis que o meu amigo João Gabriel, mas os maiores exemplos da babaquice humana podem vir das futilidades.

Nesta última semana parte da torcida do Corinthians iniciou um processo de excomunhão do jornalista Milton Neves, conhecido por ironizar e atacar o Corinthians em seus programas de TV e rádio. A torcida pôs em prática um boicote ao jornalista e seus anunciantes fazendo até com que eles se manifestem publicamente.

A marca de sapatos Rafarillo diz em comunicado que também já apoiou os jornalista Neto e Ronaldo Giovanelli, notoriamente corinthianos, porém enviará a reclamação para o departamento de Marketing para análise. Apenas essa resposta da empresa mostra que o futebol, por incrível que pareça, ainda não atingiu o seu maior nível de idiotice.
Milton Neves é, antes mesmo que jornalista, um comunicador dos bons. Diria que ele é o Silvio Santos do esporte. Muitos entendem que o futebol é religião, outros entendem que é entretenimento, e eu fico no meio do caminho. Não assisto jogos do meu time como se fosse um filme ou uma novela, pois aquilo me move, me fascina, me traz tristeza e alegria, me faz gritar, xingar, perder o senso de justiça e da razão. Por outro lado, não posso colocar o futebol acima das milhares de coisas mais importantes na vida, como a liberdade.

Gosto de ver o Milton Neves falando asneiras que nem ele mesmo acredita. Gosto de ver o antagonismo nos debates esportivos. O que a torcida quer? Que todos os jornalistas defendam o Corinthians? Que sem graça, literalmente. Pense você se não é legal ver o Neto dizendo que o Corinthians deveria jogar a Champions League pouco antes de uma eliminação para o Guarani do Paraguai? E a Renata Fan chorando logo após o Grêmio golear o seu Internacional por 5 gols? Pois é, também é legal ver o Milton Neves levando caixão e apito do Corinthians para o estúdio.


Acordem! Boicotar um jornalista porque ele brinca com futebol é a babaquização máxima, além de ser um péssimo exemplo para os nossos filhos. Isso é uma espécie clara de opressão e intolerância. O trabalho do Milton Neves é esse, ele vive disso. Se ele irrita 30 milhões de corinthianos, não se esqueçam que existem mais 174 milhões de pessoas que se divertem. Pois é, existem outras pessoas além de corinthianos, você acredita?

Há quem diga que o torcedor também tem a sua liberdade de expressão e tem o direito de boicotar quem ele quiser. Isso é fato, é uma verdade. Eu não questiono o direito, mas os motivos. Quando uma grande massa se rebela contra uma injustiça ou um contra um ditador é bonito, inteligente e louvável, mas quando uma grande massa se volta contra um jornalista que faz piada com um determinado time isso se torna feio, burro e desprezível. Isso é, mais uma vez o retrato de uma sociedade que não aceita perder e ser contrariada, uma sociedade de mimados que sempre quer vitória e perde a glória de chorar.
O ponto mais preocupante dessa atitude é a censura imposta por um grande grupo e com motivos pra lá de questionáveis. Imaginemos que essa campanha dê certo e os patrocinadores abandonem Milton Neves, e que sem dinheiro de publicidade a Bandeirantes o abandone também, todos os jornalistas “antis” estão fadados ao desemprego? Que espécie de ditadura é essa? É o início do plano para que todos os brasileiros sejam corinthianos? Pelo jeito descobrimos que Pink e Cérebro são alvinegros.
O problema aqui não é se o Milton Neves vai perder o emprego e passar necessidades, ele é rico. O problema é como podemos moldar o comportamento da mídia nos utilizando do nosso poder de compra.

Pior que tudo isso acima, há a possibilidade de que Milton Neves comece a só falar bem do Corinthians para manter sua audiência, patrocino e emprego. Viveremos em um mundo de mais mentiras e seremos como aquelas celebridades as quais pessoas paparicam mas não suportam. A torcida do Corinthians, como a do Flamengo, tem muito poder e pode mudar muitas coisas, não usemos isso para o mal e para a repressão. Viva a diversidade de pensamento. Viva ao humor no futebol. Isso não é política, isso não é religião (não que, em muitas vezes, não utilizemos o fanatismo e a irracionalidade nesse 2 também).

Corinthians e Palmeiras deram o exemplo nos últimos 15 dias quando um parabenizou o outro pelo aniversário e enalteceu a maior rivalidade do estado. Falta agora os torcedores reconhecerem no adversário o combustível que move toda essa engrenagem. Se o futebol te move, te fascina, te traz tristeza e alegria, te faz gritar, xingar, perder o senso de justiça e da razão, é justamente por causa do seu rival. Sem rivais, sem derrotas e sem decepções não há motivação para evoluir. Aceite as derrotas, curta suas vitórias, brinque com os seus amigos, só não tente unir uma nação de torcedores-censores para destruir o futebol e a liberdade. Aprenda a perder, menino!


Texto de um corinthiano, com muito amor, até o fim.


Que horas ela volta, transformações sociais e um pequeno obituário do PT


Este texto contém informações sobre o filme. Se você não o viu, mas pretende ver e não quer saber o que acontece, não o leia.
Neste domingo venci minha forte resistência à Regina Casé e fui assistir ao filme "Que horas ela volta?", estrelado por ela, em cartaz nos cinemas e que vem recebendo excelentes críticas. Embora o foco do blog seja falar mal, não abordarei aqui minha rejeição à Regina, e sim falarei sobre o filme, que é excepcional. Valeu muito a pena vencer minha teimosia. O filme é a melhor crônica sobre as transformações sociais dos últimos 10 anos e expõe de forma brilhante os choques entre e a elite e a nova classe média através de uma das relações que mais a representa, a que ocorre entre patrão e empregada doméstica.
Enxergo nesta relação um dos grandes resquícios do período escravista em nosso país. Val, personagem interpretado de forma estupenda por Regina Casé, é a típica empregada doméstica de uma família abastada, sendo considerada por esta como alguém "da família", ao mesmo tempo em que precisa usar uniforme, não pode se sentar à mesa com os patrões, nem chegar perto da piscina, a não ser para limpá-la. Vive num quarto de empregada no melhor estilo senzala moderna, pequeno e sem ventilação. A casa possui um gigantesco e confortável quarto de hóspedes que está sempre vazio, enquanto Val, a pessoa "da família", vive em seu muquifo escondido e apertado, sem que isto cause nenhum tipo de desconforto aos patrões ou à doméstica. Uma relação de opressão só é possível de ocorrer de forma "perfeita" quando opressor e oprimido se reconheçam e não se sintam incomodados com os papéis que representam.
A situação de conforto acaba quando Jéssica, filha de Val, decide prestar vestibular em São Paulo, levando a mãe a pedir aos patrões que sua filha fique na casa deles por um tempo. Val deixou a filha ainda muito criança no Nordeste para tentar uma vida melhor em São Paulo, enviando mensalmente dinheiro para a criação dela. Elas não se vêem há 10 anos e a filha mantêm com a mãe um um relacionamento distante, ao contrário do que ocorre entre Val e Fabinho, filho dos patrões, que tem um carinho pela empregada maior do que o que possui pela mãe.
O filme é repleto de cenas antológicas e a primeira delas, a meu ver, é quando Val compra um presente de aniversário para a patroa, que finge gostar e logo em seguida o devolve para a empregada, para que esta o guarde. A relação funcionário x patrão no Brasil é, a meu ver, e não falando apenas da relação doméstica, muito marcada pela sensação de gratidão, não do empregador pelo empregado, mas sim o inverso. O funcionário tende a ser muito grato à pessoa que paga seu salário, quase como se o patrão estivesse fazendo um favor. É o caso clássico do patrão que doa suas roupas velhas para o filho da doméstica e em troca espera receber uma gratidão eterna.
A chegada de Jéssica causa imediatamente um estranhamento a todos os habitantes da casa, inclusive a Val. Os patrões ficam boquiabertos ao saber que Jéssica prestará o mesmo vestibular que Fabinho, reagindo quase que por inércia numa tentativa de desacreditá-la e diminuir sua chance, tomando como base a provável pouca qualidade do ensino obtido pela menina no Nordeste. Mas Jéssica é confiante e ao demonstrar esta confiança é vista especialmente pela casa como alguém arrogante, inclusive por Val? Onde já se viu filha de empregada ter nariz em pé? Vejo essa situação de "arrogância" na relação que existe hoje entre patrões e pedreiros. Quantas vezes não vi pessoas reclamando do valor cobrado por estes e mais, achando um absurdo quando o pedreiro recusa um trabalho por um salário. Poucas coisas incomodam mais um patrão do que um funcionário audacioso que ousa agir dessa forma. No filme, a chegada de Jéssica torna Val visível e isso incomoda a todos, inclusive à personagem principal.
O filme segue com esta relação tensa entre a casa e Jéssica. Após uma pequena e desnecessária história de amor não realizado entre o patrão e Jéssica, que deveria ser cortada do filme porque é uma perda de tempo, a tensão explode no momento em que Fabinho joga Jéssica na piscina, causando uma revolta tanto na patroa quanto em Val. Como já dito, para que uma relação deste tipo exista, é fundamental que opressor e oprimido a vejam com naturalidade e ao entrar na piscina a filha da empregada quebra esta relação. A piscina, símbolo de status e conforto, não é lugar de empregado, assim pensam opressor e oprimido. Após outros entreveros, Jéssica deixa a casa e assim faz Val começar a abrir os olhos para sua própria situação. O estopim para a abertura dos olhos de Val é o resultado de Jéssica e Fabinho vestibular. Como já esperado em todo o filme, não nos surpreendemos quando a esforçada Jéssica é aprovada na primeira fase, enquanto o playboy Fabinho fracassa. Val está no quarto do menino o acalmando junto à frustrada patroa quando recebe a ligação da filha informando o seu sucesso. A patroa e Fabinho ficam incrédulos e são simplesmente incapazes de parabenizar a empregada "da família" pelo sucesso da filha. Na mesma noite, Val entra pela primeira e última vez, num momento que representa um chega da empregada para a relação de invisibilidade que viver por todos aqueles anos. No dia seguinte Val pede demissão e vai morar com a filha. As transformações no país, especialmente no anos Lula, atingiram principalmente pessoas invisíveis como Val. Nos grandes centros urbanos, ninguém entende como a maioria da população brasileira foi capaz de votar no PT na eleição do ano passado, quando os casos de corrupção já eram claros e a crise econômica já se aproximava. Creditam o sucesso do PT no Nordeste ao Bolsa-Família, quando esquecem ou não sabem que um salário mínimo em 2002 comprava meia cesta básica e hoje compra 3. Por que não sabem? Porque isto atinge apenas pessoas invisíveis e que não interessam à mídia. Por isso não vemos reportagens sobre o efeito do salário mínimo na vida de boa parcela da população, mas sofremos uma enxurrada de notícias negativas sobre o aumento do dólar.
Muitas pessoas em manifestações criticam o estado da educação no país. Sempre digo a estas pessoas que conversem com os atuais ou antigos jovens aprendizes das empresas em que trabalham e vejam a quantidade de jovens de origem pobre fazendo faculdade graças ao Prouni. As universidades particulares são em grande número ruins, isto é claro, mas pergunte a uma mãe como Val o que significa ter um filho com diploma superior e o sonho que isto representa em sua vida. Mais um exemplo de como a mudança ocorreu com pessoas "invisíveis". Tendemos a olhar o que ocorre com nossos superiores, a conversar com eles quando queremos saber a situação do país, quase nunca com os que estão hierarquicamente abaixo de nós. Com estes as pessoas não querem conversa, querem apenas dar conselhos.
O governo do PT acabou e sucumbiu principalmente à corrupção. O partido que se julgava diferente e dono da moral e da ética no país hoje tem como único argumento neste campo dizer que faz o mesmo que todos fizeram. Não foram eleitos para isto e vão pagar caro pelos seus erros, mesmo que sua oposição esteja longe de ser exemplo neste assunto. Pelo contrário. Quando, porém, o PT deixar o poder em 2018, se olharmos e compararmos o Brasil de 2018 com o Brasil de 2002, veremos um país melhor. Isto é fato.
Um outro grande erro do PT foi não reconhecer o mérito das coisas boas feitas pelo governo anterior. Espero que o governo que o suceder não cometa o mesmo erro e siga este processo de mudanças. Nosso país precisa acabar urgentemente com os resquícios da escravidão nas relações trabalhistas e com a invisibilidade das classes mais pobres. O PT começou este processo e historicamente terá este mérito.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Cameron, os refugiados e a opinião pública britânica



Uma semana após comparar os refugiados sírios a um enxame de insetos, o premiê britânico anunciou ontem que o Reino Unido fará parte do programa de recepção de refugiados da União Europeia. O número previsto é de aproximadamente 5.000 refugiados, ainda bem longe dos 400.000 refugiados que a Alemanha receberá apenas em 2015, e foi uma resposta à crescente pressão da opinião pública britânica que chegou ao ápice ontem, com a divulgação da impactante foto do corpo de uma criança refugiada em uma praia turca.
Cameron foi eleito e reeleito na Grã-Bretanha tendo como base uma política anti-imigrantes e contrária à União Europeia. Após a entrada de Romênia e Bulgária na União, por exemplo, o premiê iniciou uma campanha de publicidade negativa do Reino Unido nestes dois países. Placas com frases do tipo “Não venha para Londres, aqui só chove e as pessoas são antipáticas” foram espalhadas nestes dois países, placas estas patrocinadas pelo governo de Londres. A resposta do governo romeno foi brilhante. A Romênia comprou publicidade em Londres e espalhou placas do tipo “Na Inglaterra só chove e as pessoas são antipáticas? Pois então venham conhecer a Romênia, aqui o tempo é bonito e as pessoas te tratarão bem !”.
Como promessa de campanha, Cameron convocará até o final de 2017 um plebiscito para a saída do Reino Unido da União Europeia. Em sua opinião, a União hoje só traz custos ao contribuinte britânico. Cameron também é contra a entrada liberada para europeus de países pobres, como os habitantes do Leste Europeu. A União Europeia é possivelmente o mais importante acordo de paz hoje existente, mas isto não importa para Cameron. Ele não quer derrubar fronteiras, quer aumentá-las. A questão que importa para ele não é paz, é grana.
Poucos países têm tanta responsabilidade sobre o que ocorre hoje no mundo do que a Grã Bretanha. A questão dos refugiados africanos, por exemplo, está intimamente ligada à política colonial inglesa. Por séculos aquela região foi explorada por Londres, que levou toda a riqueza, deixando em resposta um rastro de destruição. Hoje os descendentes dos explorados correm em direção à metrópole, buscando melhores condições de vida. Cameron diz não, acredita que o Reino Unido não tem responsabilidade pelo que acontece. Não há um lugar do mundo que não tenha sofrido com o Império Britânico na história. A África foi dizimada em nome do desenvolvimento industrial inglês. A Ásia teve sua população viciada em ópio porque isto atendia aos interesses comerciais britânicos. O Paraguai foi dizimado por Brasil, Argentina e Uruguai armados pelos ingleses. Isto para citar 3 exemplos em 3 continentes distantes. Cameron deveria estudar história... Ou não, a educação na Inglaterra é muito boa, neste caso a questão é egoísmo mesmo... E má fé. Cameron e boa parte da população britânica não enxerga a responsabilidade histórica que possuem com estes povos. Ou até enxergam, simplesmente não se sentem incomodados com isso.
Para não dizer que o Reino Unido não tem interesse com nenhum tipo de refugiado, o governo britânico dá cidadania para qualquer pessoa que chegar lá disposta a investir 1 milhão de libras no seu território. Com isso, muitos russos mafiosos procurados em Moscou ou árabes milionários do petróleo são muito bem recebidos na terra da rainha.
Cameron representa hoje a ausência de humanidade em um governo. Deu uma entrevista em que se disse emocionado com a foto do menino morto. Duvido. Não há espaço para este tipo de coisa em seu governo. Ele quer apenas atender a um momento da opinião pública britânica, que muito provavelmente não está tão interessada nesta questão. Basta uma notícia de sua inútil família real para que o drama dos refugiados saia da mídia. Uma nova festa de Harry ou uma nova foto de Kate no mercado. E assim Cameron poderá se livrar do que há uma semana chamou de enxame...

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Alberto Saraiva e o mito do empresário bonzinho




Alberto Saraiva é um empresário bem sucedido. Não gosto de usar o termo sucesso para pessoas como ele, pelo simples motivo que se aplicarmos a palavra sucesso para casos como o dele devemos aplicar a palavra fracasso para todo mundo que não conseguiu o que ele conseguiu. Eu não acho que o pai de família que precisa de dois empregos para sustentar sua família seja um fracassado. Para mim este conceito está muito mais ligado à forma como você lida com a sua vida. Acho que o termo sucesso usado para pessoas que simplesmente enriqueceram cria uma sociedade doente. Mesmo assim, não posso negar que a história de vida de Alberto seja comovente. Começou absolutamente do nada. Primeiro com uma padaria com o pai, que foi assassinado em um assalto no estabelecimento 19 dias após a abertura. Não desistiu, abandonou a medicina e investiu no Habib’s. Hoje é um cara rico.
Há um texto circulando na internet cuja autoria é atribuída a Alberto e que está viralizando. Ainda não há confirmação se o texto é realmente dele e você pode vê-lo no link a seguir: http://www.jornaldoempreendedor.com.br/destaques/inspiracao/o-desabafo-do-presidente-do-grupo-habibs. É um dos piores e mais hipócritas textos que li nos últimos tempos.
O texto vangloria aquilo que chamo de “mito do empresário bonzinho”. Com o objetivo de inserir entre os trabalhadores a defesa dos interesses patronais, há uma campanha de marketing ideológico, em certa medida patrocinada por parte da mídia, para transformar o empreendedor em herói cujo objetivo principal é a criação de empregos. Boa parte (para não dizer todos) dos grandes empresários nacionais não se importa com a criação de empregos, o interesse está na margem de lucro. Para se obter lucro, contrata-se gente. O emprego, portanto, não é o fim e sim o meio para se chegar à melhor margem. Não há juízo de valor nisso. Não é errado querer lucrar. Apenas não posso mais aguentar a hipocrisia deste empresariado de querer vender a ideia de que eles fazem uma boa ação ao país ao contratar gente.
A base da criação de riqueza é o trabalho. É ele que transforma o nada em alguma coisa. Não há produção sem trabalho. Para usar o Habib’s como exemplo, Alberto é dono das máquinas e do estabelecimento, mas ele necessita de pessoas para gerar o produto final. Se Alberto contrata um atendente por R$ 1.000,00, significa que este atendente gera para Alberto, no final das contas, mais do que R$ 1.000,00. Se gerar apenas R$ 900,00, será demitido. A conta é simples, mas as pessoas se esqueceram do óbvio. O empregado de Alberto não deve ser grato a ele. Tudo que ele consegue é fruto do seu trabalho, que ajuda a enriquecer Alberto. É este que se apropria de parte da riqueza criada pelo funcionário, e não o contrário. Sem juízo de valor. A renda do trabalhador só depende de si próprio, enquanto a renda do patrão depende do trabalho do outro. Do ponto de vista lógico, quem deveria ser grato a quem?
O empresariado brasileiro, neste período de crise, tenta transformar seus interesses de classe em interesses nacionais e para isso tenta transformar o ato de criação de empregos em caridade, de tal forma que os seus empregados devem ser eternamente gratos àquele que os emprega. Para isso, usa o argumento batido e mentiroso de que “a última coisa que queremos fazer é demitir gente”. Mais uma hipocrisia. A última coisa que eles querem é diminuir a margem de lucro. Uma nova demissão é apenas “corte de gastos”.
A quantidade de trabalhadores que caiu neste engodo cresce. É assustador o número de pessoas remuneradas defendendo valores patronais e criticando a CLT. Que realmente acreditaram que os empresários querem pagar menos impostos para contratar mais gente. Eles não querem contratar mais ninguém, querem aumentar o lucro. Querem menos imposto para ter mais dinheiro no bolso. Só isso. Sem juízo de valor.
O empresariado trabalha em interesse próprio. Conseguiu convencer uma parcela significativa da classe média trabalhadora de que seus interesses representam os interesses nacionais. Aparecem na TV falando de quantos empregos geram e recebem elogios por isso. Sem juízo de valor, mas nossos valores estão invertidos. Na sociedade da aparência, não percebemos o lógico. O que gera riqueza não é o empresário de terno, mas sim o trabalhador de macacão, utilizando as ferramentas do empresário de terno. E cada um deveria defender seus interesses. Sem agradecimentos e sem hipocrisia. 

terça-feira, 11 de agosto de 2015

DISCRIMINAÇÃO - VOCÊ FINANCIA ESSA MERDA!



Comprar carteira de motorista, subornar o guarda, furar fila, pagar meia entrada indevidamente, transferir pontos para a carteira de habilitação de outra pessoa e selecionar frequentadores na porta de baladas são práticas comuns na sociedade brasileira, sendo que esta última está no foco do debate neste momento.

As hostess das baladas de classe alta de São Paulo existem somente para dizer quem pode e quem não tem o direito de se divertir. É função desse profissional deixar a balada bonita e elegante, pois o ideal é que o seu consumidor possua 3 características básicas: dinheiro, educação e beleza. A beleza é um critério subjetivo, já que se aplica apenas ao produto de qualquer casa noturna, que são as mulheres.
Essa é a hora em que feminista pula da janela, e não é para menos. A sociedade vergonhosamente machista ainda trata a mulher como um produto e para os proprietários de casas noturnas não é diferente. Como quem entra em uma revendedora de carros, os homens buscam entrar em casas que tenham os produtos mais novos, bonitos e conservados, e os promotores dos eventos vendem isso a todo momento, ou você nunca ouviu frases do tipo “Os melhores DJ’s e muita gente bonita!”?
Os homens pagam mais caro e as mulheres são VIP. Essa prática já coloca a mulher como um objeto pronto para ser consumido, caso você esteja disposto a pagar por isso. Imagine o quanto se pode cobrar em um estabelecimento em que o produto é de primeira. A entrada VIP é a maior agressão ao orgulho e ao poder feminino, e não pelo argumento simplório repetido à exaustão pelos machistas de que se os direitos são iguais os deveres também devem ser, mas pelo o fato de a própria mulher se colocar em uma prateleira para ser usada como forma de atrair um público com vocação para beber, ostentar e, principalmente, gastar.


A seleção social já é triste, é a primeira barreira que deve ser vencida no caminho da “night”. O alto preço faz a primeira seleção natural das baladas classe A, e mesmo que você faça uma poupança para poder um dia desfrutar desse mundo não é certo de que vá conseguir, pois terá sempre no seu caminho uma hostess ou um segurança para medir a sua capacidade de estar naquele lugar. É nesse momento que o brasileiro passa da vergonha moral de um país de extremos para um povo criminoso e discriminatório.


Agora não venha você dizer que não sabe que isso acontece. Todos sabemos e em muitos casos compactuamos com isso, principalmente quando frequentamos locais que notoriamente praticam esse tipo de discriminação. Se você sentiria vergonha de usar uma roupa que foi feita por escravos ou de comer em um restaurante que não aceita gays, por que consumir esse produto da balada bonita? Como na maioria das mazelas desse país, fazer a sua parte é a principal forma de acabar com o problema. Se o público parar de procurar pelo slogan “muita diversão e muita gente bonita” quem sabem um dia as casas noturnas começarão a separar o público de forma natural, apenas pelo o seu gosto musical.

A prova de que não são apenas as baladas que são escrotas, mas o seu público também, vem dos EUA. Sean O'Brien é um homem acima do peso que decidiu dançar e se divertir, porém a foto abaixo foi postada com a seguinte legenda "Vi esse espécime tentando dançar na semana passada. Ele parou quando nos viu rindo".


Sean era apenas mais um ser humano tentando se divertir, mas as pessoas que publicaram essa foto gostariam que ele estivesse ali?
Em resumo, Sean se tornou um ícone antibullying e ganhou uma festa ao som de ninguém menos que DJ Moby. A hashtag #dancingman explodiu.

A sociedade tem que entender a sua parcela de culpa, já que a balada classe A só é assim porque vende, porque tem público. Fazendo uma comparação exagerada, toda a culpa do Holocausto recaiu sobre o regime nazista e o seu mentor Adolf Hitler, mas as pessoas se esquecem que os judeus eram odiados por toda a Europa, seja pela população ou por seus governantes, mas apenas Hitler teve a covardia coragem de fazer o que fez. Será que você, frequentador das baladas de luxo – e não são apenas as sertanejas, hein! –, não está financiando o crime? Será que você também não discrimina indiretamente? Será que na verdade você gosta e aprova isso? Será que você não paga caro justamente para que alguém mantenha certas pessoas bem longe? Pense bem, a sociedade também é você.